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sábado, 5 de setembro de 2009

Conto: Uma fábula kafkaniana

“Ser grande é ser incompreendido”.
Oscar Wilde
Sombras haviam lhe arrancado de sua cama de madrugada e o arrastado para o tribunal. O tempo era de terror e não se espantava com os métodos dos opressores para calar vozes como a sua; o que o surpreendeu foi terem lhe concedido um julgamento. No tribunal o palco estava armado para o espetáculo.
O homem foi acorrentado na cadeira do réu e teve certeza do papel que exerceria naquela noite. O júri estava em seu lugar, o guarda, o promotor e o juiz. Havia até um escrivão registrando cada bocejo feito no recinto – que não eram poucos –, faltava apenas o advogado de defesa.
Logo foi esclarecido que permitiriam ao réu se defender pessoalmente, o que de fato o agradou. As coisas não pareciam tão ruins assim afinal. Estava errado.
O julgamento começou com a descrição do caso e do acusado. O júri foi informado que se tratava do julgamento de Franz Kafka exímio, porém, soturno escritor que assombrava a língua alemã com suas obras secretas. E por sua vez, Kafka soube qual fora seu crime. Era acusado de bruxaria e homicídio culposo. Segundo o promotor o réu havia transformado durante o sono um pobre e infeliz caixeiro viajante chamado Gregor Sanches em um inseto rastejante; e que por causa disso foi morto a vassouradas por uma empregada. Sem falar na família da vitima internada em um sanatório gerando gastos aos cofres públicos por culpa de um monstro maior chamado Franz Kafka. O promotor cuspia, não, escarrava sempre que pronunciava o nome do réu causando asco no júri que não conseguia si quer fitar o réu tamanha repulsa.
E para provar que suas acusações eram fundamentadas o promotor mandou trazerem o cadáver de Gregor Sanches. O próprio Kafka não pode deixar de se horrorizar com a criatura esmagada e aos pedaços, oferecida à platéia. Era uma espécie de aberração infernal. O cruzamento mal sucedido entre homem e pesadelo.
O mais estranho era que Kafka reconhecia a criatura. Sim, se lembrava dela, era uma de suas má-criações. Ela não existia, ou não devia. Mas as estranhezas não haviam terminado. Por ordem do promotor o júri digeriu as provas do crime devorando cada perna e antena de Gregor Sanches. Kafka concluiu que estava sendo julgado por loucos ou era ele que enlouquecera. O que era bem possível.
O réu teve a oportunidade de se defender e fez o melhor em tais circunstâncias. Ele se esforçou para despertar o bom senso de seus ouvintes, para provar que não podia ferir ninguém com palavras, mas neste ponto começou a duvidar de si mesmo. Tinha que admitir que seus textos não eram inofensivos, e por isso mesmo os guardava em uma gaveta trancada e não estava certo que algum dia os publicaria. E quando percebeu que de qualquer forma seria inútil argumentar parou e o júri acordou, pois haviam dormido durante toda a defesa.
O Juiz também estava exausto e entediado e decidiu acabar logo. Perguntou ao júri qual era o veredicto. Inocente! Gritaram e foram embora para suas casas. E o juiz martelou a decisão. Absolvido de todas as acusações e livre para todo o sempre. E o promotor disse amém, aleluia! E os restantes saíram para comemorar. Na cadeira, acorrentado ficou o réu sem entender nada, afogado em um misto de alívio e confusão.
O carrasco entrou, libertou o prisioneiro e o levou para o pátio onde uma forca esperava por ele. E enquanto Kafka estrebuchava na corda perguntava ao seu algoz:
“Mas por quê? Por quê?”
E o carrasco respondia:
“Você sabe, você sabe”.
E para Kafka não houve moral alguma a ser aprendida, apenas a certeza de que estamos todos condenados a permanecer na forca até que faça sentido.

Um comentário:

  1. Olá Marcos, tudo bem?

    Quer dizer que o Rafael tá falando de mim então em Assis? ehehehe Espero que apenas as coisas boas ehehehe.
    Bom, pra inserir contador, basta entrar neste link http://www.pax.com/counter/signup e fazer um login, depois escolher o tipo de contador que quer inserir no seu blog. Você vai receber um link que deve incluir na parte ~personalizar~ e colar o link dentro de uma caizinha,posicionando-a no lugar do blog que achar melhor. Parece complicado,mas não é,é bem instintivo.

    Continue entrando no blog, bom saber que tenho um leitor em Assis. Mande abraços para o Rafa.

    Serginho

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