Galego era um santo e Dona Bela, a senhora sua esposa, duas vezes santa. O homem era pai de família, trabalhador e humilde, um exemplo para a comunidade. A mulher era benzedeira e com suas orações salvou muita criança doente. Resumindo, o casal era querido por todos no morro. Daí se compreende o alvoroço que se formou quando certa tarde de sábado Galego entrou arrasado no Bar do Tião exigindo uma dose de pinga.
– Ocê enchendo a cara, negô veio!?! – um conhecido disse mais exclamando que indagando.
– Não perturba Janjão. Me deixa! – respondeu Galego virando um copo. – Outro. – exigiu.
– Tem certeza? Ocê não é de beber Seu Galego. – disse o atendente do bar.
– A única coisa que tenho certeza nessa merda de vida é que quero mais uma dose droga! – gritou Galego batendo o copo vazio no balcão com força.
– Calma companheiro, conta pra gente o que se passa? – perguntou outro conhecido.
- Parece até que viu o demônio ou que acabou de ser assaltado. - comentou um velho amigo.
– Pior! Roubaram a Bela, porra!
No canto pararam de jogar sinuca e moço do churrasquinho esqueceu da carne. E alguém desligou a TV no meio do jogo tamanho a gravidade da notícia.
– Não pode ser, Galego. Quando e onde foi isso? – alguém perguntou revoltado.
– Aqui mesmo no morro enquanto eu trabalhava. Acabei de saber. – informou Galego caindo no choro.
Alguém perguntou se a mulher tinha sido apenas roubada ou algo mais e levou peteleco pela indiscrição. Mas entre soluços e agora abraçado a um vizinho Galego balbuciou que haviam feito de tudo com esposa. A indignação no bar atingiu o nível máximo. Perguntaram também se ela estava sozinha e onde exatamente aconteceu a tragédia. Quando Galego chorou que foi na própria casa e na presença dos filhos e que foram estes que o informaram da desgraça teve quem o acompanhou no choro.
– E ocê sabe quem foi o filho da puta que fez isso com tua esposa? – perguntou o dono do bar tirando uma arma debaixo do balcão.
– O Genário. – respondeu Galego mastigando o nome.
– O Genário da banca de jornal? – perguntaram incrédulos.
O povo esperava que fosse um nóia ou mesmo um traficante. Um tranqueira qualquer, mas o Genário era quase tão gente boa quanto o Galego e a Dona Bela, além de serem amigos, o que acabou revoltando o grupo em dobro. E como o Galego confirmou que o criminoso era o Genário e como ele nunca mentia a marmanjada catou os tacos de sinuca e desceu o morro.
Pelo caminho o grupo de lixamento ia engrossando e quando chegaram na banca já era uma passeata. Não encontraram o infeliz e moeram a banca e queimaram o que sobrou. Estavam ensaiando o que fariam com o crápula que havia feito mal a Dona Bela, que na empolgação de lixar ninguém se lembrou de perguntar se passava bem, mas bem é que não podia estar.
Quando chegaram na casa do Genário gritaram que o judas saísse que era sábado aleluia no morro. Mas quem saiu foi a Dona Bela, você ouviu direito, Dona Bela, sim senhor, ela apareceu um tanto constrangida e um tanto brava.
– Que zona é essa?! – perguntou a mulher para o povaréu atônito. – Já sei, foi o frouxo do meu ex que foi pedir ajuda pra me arrastar de volta pra casa, não é?
– Desculpa, mas a senhora não foi roubada hoje pelo Genário? – alguém perguntou.
– Quem foi roubado foi o bunda mole do Galego. Ocês são tontos ou o quê?!
O povo injuriado espremeu o Galego até não sobrar sumo.
Espaço destinado para contos, fanfics,crônicas e comentários a respeito de Literatura, TV e Sétima Arte. Todos os textos são de autoria de MLMAnjos. Críticas e sugestões são bem vindas, principalmente quanto à correção gramátical.Obs:os textos postados aqui estão em constante reformulação.
Seja bem-vindo ao mundo de Acalanto!
Caso goste de algum dos textos postados por mim saiba que estão liberados para qualquer espécie de publicação, desde que se observe as seguintes condições: 1ª citar autor e fonte, 2ª não alterar o texto, 3ª apenas para fins culturais, 4ª não associar a ideologias e 5ª me informar antes.
Agradeço pelo tempo dedicado as minhas histórias que de agora em diante pode considerar como nossas.
Agradeço pelo tempo dedicado as minhas histórias que de agora em diante pode considerar como nossas.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Caro, podes melhor a forma, mas no geral bem narrado, o narrador é um contador habilidoso que leva até o improvavel com as personagens improvaveis.
ResponderExcluireita gostei :3
ResponderExcluiré sempre bom mexer com diveras realidades, e isso vc vez bem! ainda mais uando isso diz respeito às fragilidades humanas, e o quanto o contexto (en as pessoas inseridas nele) está (ão) suscetível(is) a isso.
parabéns!