Este comentário foi feito por mim originalmente no blog: http://carolchiovatto.wordpress.com de minha cara amiga, Carol Chiovatto. Achei interessante e decidi postar aqui também.Porém,esta versão foi complementada com um parágrafo a respeito da diferenciação entre gêneros literários e escolas literárias.
Acredito que a classificação por escolas literárias ainda é válida. A questão é que um estudioso da área necessita de um distanciamento de no mínimo uma geração para poder classificar uma "tendência" como "escola" de forma segura e aceitável pela Acadêmia. No presente, podemos observar e catalogar modismos e com sorte prever uma possível tendência cultural. Já um verdaderio zeitgeist ( espírito de época) somente passado um século ou mais. A escola em que o indivíduo observador está inserido pode até receber selos provisórios, mas será sempre e simplesmente a "escola atual", não vale "contemporânea" e nem "pós-moderna", pois há controversias, justamente pelo aparente boom de multiplas formas de se expressar artisticamente que pipoca diariamente mundo a fora nos mais diversos setores da Arte.
Lembrando que "agrupar" autores e obras nas chamadas "escolas" é um recurso estritamente prático-didático. Não há e nunca houve um consenso a respeito dessas classificações, que querendo ou não são projeções da mentalidade de uma época em oposição a outra, o que por si só já constitui uma injustiça histórica pela análise estar contaminada por preconceitos próprios da época do analista.
É ilusório crer que as ditas escolas são criadas pelos autores e identificadas pelos estudiosos, pelo contrário, são os teoricos que constroem a escola na prática, as obras são suas peças e suas ideias as ferramentas, aos autores resta reconhecer ou rejeitar tais ideias que uns julgam limitadoras e outros, reflexo inofensivo de uma sociedade pragmática.
Saramago não admitia rotulos, a Ligia Bojunga Nunes também não gosta de ser taxada de autora infanto-juvenil. Já o Moteiro Lobato se orgulhava de seus estigmas literários. Machado criticou os modismos de Eça de Queirós para adotá-los em seguida - e melhor que seu desafeto. Até José de Alencar que será eternamente (será?) lembrado pela virgem de lábios de mel (quem mesmo?) cursou outra escola como podemos "ver" no "céu fluminense" (Senhora). Resumo da ópera: por mais que pretendam ter um caráter cientifico, as classificações literários são e "solamente" uma tentativa por parte de teoricos e professores de domar à subjetividade estética e liberdade criativa em prol das cartilhas - ok, há também uma "boa intenção" de facilitar o aprendizado dos alunos. Mas a verdade é que de longe as escolas perdem contorno e se fundem diante de nossos olhos em "literatura universal", mas a reciploca tambem é verdadeira, e a medida que no aproximamos e fazemos uma análise mais detalhada vemos que há mais diferenças entre os livros de um mesmo autor do que entre escolas divergentes.
Porém, rotular a Arte e tudo mais que provem do homem e da natureza é um recurso legitimo e sine qua non à memória da humanidade. A generalização é um mecanismo natural da mente humana que permite a esta converter elementos extremamente complexos em algo mais simples e favorável ao raciocínio, nem que para tanto seja necessário "racionalizar" para forçar a uma lógica. Generalizar é nossa forma de adaptar o caótico a priori a uma ordem a posteriori. Contudo, no caso da literatura, "gênero" e "escola" não se equivalem, tratam-se de conceitos que se completam, mais ainda assim, distintos e que por vezes se cruzam, geralmente causando confusão.
O gêneros literários são os romances, novelas, contos, peças teatraise etc., e se quisermos ir mais longe, sob o nome de gênero textual podemos seguir ad infinitum, incluindo na conta desde cartas, relatórios,resenhas até a próxima invenção textual. Já as escolas pretendem agrupar autores e obras de estilo semelhante pertecentes a uma mesma faixa histórica, tais obras e autores devem dialogar quanto à tecnica, tema e mentalidade. A filosofia que permeia à obra e a forma que a caracteriza como fruto de uma árvore diferente, porém, de um mesmo canteiro no pomar das musas é o que dita os limtes de uma escola literária. E nada impedi que autores de uma mesma escola adotem genêros literários sem qualquer semelhançca entre si, desde que um únio espiríto literário seja compartilhado por todos, mesmo que em menor grau pelos chamados autores fronteiriços.
Concluo com uma estorieta que ouvi no Fantásticon 2010 ( não me lembro de quem, apenas de que foi algo que leram em um livro). Há um conto de ficção cientifica que nos fala de alienigenas que ao visitarem nosso planeta em um futuro distante exploram as ruínas de nossa civilização e ao termino do estudo de toda nossa cultura preparam o brevissimo relatório: "Por volta do ano 1 da Era Cristã nasceu um homem importante para a humanidade, depois seguiram-se um milhão de anos sem nada de relevante a ser registrado até a extinção da mesma". A uma conclusão semelhante chegou uma personagem também alienigena de Douglas Adams em o "O Guia do Mochileiro das Galáxias" ao sentenciar após uma década de "pesquisa" que o verbete "planeta Terra" no Guia não merecia mais que um "praticamente inofensiva". Isto é, com o distanciamento temporal e de mentalidade, tudo fica fácil de se "reduzir" a um mero termo genérico ou a uma definição rala e pretenciosa - mas inevitável - mesmo um universo riquisimo em sentido como o literário. Portanto, não devemos nos surpreender, caso daqui a cinquenta anos, olharmos para trás e sobre o efeito de uma epifânia descobrirmos que o século XX foi uma "coisa só", multifacetada por fora, mas homegenea por dentro, e que se não haviamos notado o obvío não foi apenas porque estavamos imersos nele, mas principalmente porque o "obvio" eramos nós. E eis que de uma hora para outra veremos toda aquela ebulição cultural tragada por uma expressão movediça como "relativismo conceitual".
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Agradeço pelo tempo dedicado as minhas histórias que de agora em diante pode considerar como nossas.
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Comentei no blog da Carol e reforço por aqui: muito boa sua explicação!
ResponderExcluirObrigado, sempre há bons comentários no blog da Carol, mas temo que o meu ficou pernóstico. Pensei até que teriam entrado no meu blog para me criticar. Valeu pela força!
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