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segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Crônica: Viagem insólita

Na ocasião de uma breve passagem pela cidade de São Paulo vivi uma série de epifanias e gostaria de relatar ao menos uma. A experiência em questão ocorreu em um onibus circular que peguei do Centro Velho para Campo Limpo na Zona Sul.
Era horário de pico e fui obrigado a viajar de pé espremido com mais uma centena de trabalhadores como sardinhas em uma lata. Invoquei este clichê apenas para demonstrar o quanto precária pode ser esta comporação. Sardinhas não compartilham de uma sensação termica de 53 graus de calor humano. Elas viajam até nossas mesas mergulhadas em uma saudável e refrescante solução de ômega-3 enquanto o paulistano cozinha no suor público. As sardinhas dormem embaladas pelo silêncio hermético de seu ataúde metalico. Já os paulistanos enlouquecem ao som da filarmônica de pistões, buzinas e conversa de comadres. Com a exceção dos que obstruem os ouvidos com fones e celulares, imagem esta que evocava visões de minha infância no sítio onde apenas as bestas de quatro patas usavam tapas, espécie de venda que auxilia o patrão na condução dos burros. Mas deixando latas e carroças de lado voltemos ao ônibus.
Como todo leitor compulsivo que se preze sempre trago um livro comigo como bóia de salva-vidas - leitor prevenido não morrre de tédio - e daquela vez trazia um livro chamado "Portal-2001", antologia de contos científicos que mexeram comigo mais que o "balance" do circular. Foi então que, entre uma página e outra, vi uma moça devorando sem pudor algum o "Crime e Castigo" ao lado de um rapaz que lia o "O Último dos Olimpíanos". Eles pareciam distantes, mas não como seres alianados, mas como astronautas que por ousar voar alto conseguem abarcar o mundo em único olhar.
Naquele ponto, lágrimas escorriam causadas por um conto chamado "Herdeiro dos Ventos" que fala justamente de como a literatura nos proporcina romper barreiras e voar alto.
O protagonista de Herdeiro dos Ventos é um "passageiro da vida" como todos nós, mas diferente da maioria ele não passa a viagem dormindo ou com os olhos fixos em um único ponto, ou pior, pensa o tempo todo no final da viagem, nada disso! Ele desfruta da paisagem, ele consulta seu guia, ele dialoga com o passageiro sentado ao seu lado. Ele aproveita a viagem viajando enquanto a maioria de nós fica parado e se deixa levar. Sempre havera quem critique os herdeiros dos ventos acusando de sonharem acordados, mas eu digo, nessa vida ou se sonha acordado ou se anda dormindo. Cada um que escolha o seu bonde.
Quando surgir a oportunidade de ficar preso por uma hora no trânsito de S. Paulo aproveite para explorar e apreender. Eu por exemplo descobre este belo costume da leitura no onibus e metro, mesmo que não seja dos mais saudáveis para as vistas e dos mais seguros para as bolsas. Falo por mim, quando afirmo que o prazer da leitura vale correr qualquer risco, o que não podemos é correr o risco de não ler.
Naquela viagem contei dezesseis pessoas lendo. Pode parecer pouco se comparado com o número muito superior de passageiros que não estavam lendo,concordo, mas ao menos empatava com a quantidade de passageiros que posso dizer com certeza que desfrutavam da viajem. S. Paulo é muitas coisas, boas e ruins, mas a imagem que me marcou foi a de uma cidade que lê.

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