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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Comentário: escolas literárias e a dificuldade de se definir a tendência atual

Este comentário foi feito por mim originalmente no blog: http://carolchiovatto.wordpress.com de minha cara amiga, Carol Chiovatto. Achei interessante e decidi postar aqui também.Porém,esta versão foi complementada com um parágrafo a respeito da diferenciação entre gêneros literários e escolas literárias.

Acredito que a classificação por escolas literárias ainda é válida. A questão é que um estudioso da área necessita de um distanciamento de no mínimo uma geração para poder classificar uma "tendência" como "escola" de forma segura e aceitável pela Acadêmia. No presente, podemos observar e catalogar modismos e com sorte prever uma possível tendência cultural. Já um verdaderio zeitgeist ( espírito de época) somente passado um século ou mais. A escola em que o indivíduo observador está inserido pode até receber selos provisórios, mas será sempre e simplesmente a "escola atual", não vale "contemporânea" e nem "pós-moderna", pois há controversias, justamente pelo aparente boom de multiplas formas de se expressar artisticamente que pipoca diariamente mundo a fora nos mais diversos setores da Arte.
Lembrando que "agrupar" autores e obras nas chamadas "escolas" é um recurso estritamente prático-didático. Não há e nunca houve um consenso a respeito dessas classificações, que querendo ou não são projeções da mentalidade de uma época em oposição a outra, o que por si só já constitui uma injustiça histórica pela análise estar contaminada por preconceitos próprios da época do analista.
É ilusório crer que as ditas escolas são criadas pelos autores e identificadas pelos estudiosos, pelo contrário, são os teoricos que constroem a escola na prática, as obras são suas peças e suas ideias as ferramentas, aos autores resta reconhecer ou rejeitar tais ideias que uns julgam limitadoras e outros, reflexo inofensivo de uma sociedade pragmática.
Saramago não admitia rotulos, a Ligia Bojunga Nunes também não gosta de ser taxada de autora infanto-juvenil. Já o Moteiro Lobato se orgulhava de seus estigmas literários. Machado criticou os modismos de Eça de Queirós para adotá-los em seguida - e melhor que seu desafeto. Até José de Alencar que será eternamente (será?) lembrado pela virgem de lábios de mel (quem mesmo?) cursou outra escola como podemos "ver" no "céu fluminense" (Senhora). Resumo da ópera: por mais que pretendam ter um caráter cientifico, as classificações literários são e "solamente" uma tentativa por parte de teoricos e professores de domar à subjetividade estética e liberdade criativa em prol das cartilhas - ok, há também uma "boa intenção" de facilitar o aprendizado dos alunos. Mas a verdade é que de longe as escolas perdem contorno e se fundem diante de nossos olhos em "literatura universal", mas a reciploca tambem é verdadeira, e a medida que no aproximamos e fazemos uma análise mais detalhada vemos que há mais diferenças entre os livros de um mesmo autor do que entre escolas divergentes.
Porém, rotular a Arte e tudo mais que provem do homem e da natureza é um recurso legitimo e sine qua non à memória da humanidade. A generalização é um mecanismo natural da mente humana que permite a esta converter elementos extremamente complexos em algo mais simples e favorável ao raciocínio, nem que para tanto seja necessário "racionalizar" para forçar a uma lógica. Generalizar é nossa forma de adaptar o caótico a priori a uma ordem a posteriori. Contudo, no caso da literatura, "gênero" e "escola" não se equivalem, tratam-se de conceitos que se completam, mais ainda assim, distintos e que por vezes se cruzam, geralmente causando confusão.
O gêneros literários são os romances, novelas, contos, peças teatraise etc., e se quisermos ir mais longe, sob o nome de gênero textual podemos seguir ad infinitum, incluindo na conta desde cartas, relatórios,resenhas até a próxima invenção textual. Já as escolas pretendem agrupar autores e obras de estilo semelhante pertecentes a uma mesma faixa histórica, tais obras e autores devem dialogar quanto à tecnica, tema e mentalidade. A filosofia que permeia à obra e a forma que a caracteriza como fruto de uma árvore diferente, porém, de um mesmo canteiro no pomar das musas é o que dita os limtes de uma escola literária. E nada impedi que autores de uma mesma escola adotem genêros literários sem qualquer semelhançca entre si, desde que um únio espiríto literário seja compartilhado por todos, mesmo que em menor grau pelos chamados autores fronteiriços.
Concluo com uma estorieta que ouvi no Fantásticon 2010 ( não me lembro de quem, apenas de que foi algo que leram em um livro). Há um conto de ficção cientifica que nos fala de alienigenas que ao visitarem nosso planeta em um futuro distante exploram as ruínas de nossa civilização e ao termino do estudo de toda nossa cultura preparam o brevissimo relatório: "Por volta do ano 1 da Era Cristã nasceu um homem importante para a humanidade, depois seguiram-se um milhão de anos sem nada de relevante a ser registrado até a extinção da mesma". A uma conclusão semelhante chegou uma personagem também alienigena de Douglas Adams em o "O Guia do Mochileiro das Galáxias" ao sentenciar após uma década de "pesquisa" que o verbete "planeta Terra" no Guia não merecia mais que um "praticamente inofensiva". Isto é, com o distanciamento temporal e de mentalidade, tudo fica fácil de se "reduzir" a um mero termo genérico ou a uma definição rala e pretenciosa - mas inevitável - mesmo um universo riquisimo em sentido como o literário. Portanto, não devemos nos surpreender, caso daqui a cinquenta anos, olharmos para trás e sobre o efeito de uma epifânia descobrirmos que o século XX foi uma "coisa só", multifacetada por fora, mas homegenea por dentro, e que se não haviamos notado o obvío não foi apenas porque estavamos imersos nele, mas principalmente porque o "obvio" eramos nós. E eis que de uma hora para outra veremos toda aquela ebulição cultural tragada por uma expressão movediça como "relativismo conceitual".

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Resenha: "O Vale dos Anjos" O torneio dos Céus-Parte I

Dimitris Saloustros é um grego que morre precocemente aos 22 anos e do Além promete a sua amada esposa que retornará para seus braços nem que para isso tenha que partir o Céu em dois. Auxiliado pelo divertido Obelisco, um anjo-guia-de-enterro, e pela doce cupido Anne, Dimitris vivera uma série de aventuras no Paraíso para cumprir sua promessa. Contudo, há mais desafios e perigos no caminho do jovem herói do que ele sequer suspeita, o que não impedi que seus feitos abalem o outro mundo e culminem em um torneio a la “Dragon Ball Z” pra ninguém botar defeito.

Eu tive a oportunidade de conhecer Leandro Schulai, autor de “O Vale dos Anjos”, e admito que não sei o quanto de seu carisma (o cara é tipo Neil Gaiman) afetou minha leitura, mas me esforcei para ser imparcial.

Logo no inicio há um prólogo com clima de mistério pra instigar o leitor. Em seguida, somos apresentados rapidamente à cativante personagem principal que de cara morre e pronto – começa a aventura. Infelizmente, após os três primeiros capítulos há uma queda no ritmo da narrativa para que o autor passeie conosco por seu “paraíso particular” e apresente as personagens coadjuvantes. Uma pausa incomoda , mas necessária. Do meio para frente, agora com a atmosfera consolidada e as personagens bem definidas, a história recupera o fôlego até atingir seu ápice em um torneio sobrenatural com tons de anime.

Creio que o romance tenha como ponto alto sua linguagem ágil e envolvente que não decepcionará leitores adeptos de best-sellers como “Crepúsculo” e “Harry Potter”. Outro ponto ao seu favor são as personagens que herdaram a simpatia do autor, mas que por vezes soam demasiado caricatas.

O livro carece de concisão e aguardo ansioso para conferir o amadurecimento d’ “O Vale dos Anjos” em sua segunda parte. E é inegável que o desfecho impressiona e deixa um gostinho de quero-mais, porém espero que o Leandro conclua o torneio no próximo título e reserve os demais (seis no total) para novos desafios na pós-vida de Dimitris (guardem este nome).

Resumindo: aventura sobrenatural meio chik-lit, descontraída e empolgante. Ideal para ler no transporte de volta para casa após um dia longo de trabalho ou encostado a um travesseiro para atrair bons sonhos. Recomendo para o público jovem e para quem aposta que os anjos são os novos vampiros, e com ressalvas aos que curtem romances espíritas, não se trata de um propriamente dito, mas pode ser lido como um sem problema algum.

Enfim, mais uma promessa literária que desponta no universo fantástico nacional com o frescor e deslizes comuns aos jovens estreantes desta difícil arte de tornar sonhos em realidade.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Crônica: Viagem insólita

Na ocasião de uma breve passagem pela cidade de São Paulo vivi uma série de epifanias e gostaria de relatar ao menos uma. A experiência em questão ocorreu em um onibus circular que peguei do Centro Velho para Campo Limpo na Zona Sul.
Era horário de pico e fui obrigado a viajar de pé espremido com mais uma centena de trabalhadores como sardinhas em uma lata. Invoquei este clichê apenas para demonstrar o quanto precária pode ser esta comporação. Sardinhas não compartilham de uma sensação termica de 53 graus de calor humano. Elas viajam até nossas mesas mergulhadas em uma saudável e refrescante solução de ômega-3 enquanto o paulistano cozinha no suor público. As sardinhas dormem embaladas pelo silêncio hermético de seu ataúde metalico. Já os paulistanos enlouquecem ao som da filarmônica de pistões, buzinas e conversa de comadres. Com a exceção dos que obstruem os ouvidos com fones e celulares, imagem esta que evocava visões de minha infância no sítio onde apenas as bestas de quatro patas usavam tapas, espécie de venda que auxilia o patrão na condução dos burros. Mas deixando latas e carroças de lado voltemos ao ônibus.
Como todo leitor compulsivo que se preze sempre trago um livro comigo como bóia de salva-vidas - leitor prevenido não morrre de tédio - e daquela vez trazia um livro chamado "Portal-2001", antologia de contos científicos que mexeram comigo mais que o "balance" do circular. Foi então que, entre uma página e outra, vi uma moça devorando sem pudor algum o "Crime e Castigo" ao lado de um rapaz que lia o "O Último dos Olimpíanos". Eles pareciam distantes, mas não como seres alianados, mas como astronautas que por ousar voar alto conseguem abarcar o mundo em único olhar.
Naquele ponto, lágrimas escorriam causadas por um conto chamado "Herdeiro dos Ventos" que fala justamente de como a literatura nos proporcina romper barreiras e voar alto.
O protagonista de Herdeiro dos Ventos é um "passageiro da vida" como todos nós, mas diferente da maioria ele não passa a viagem dormindo ou com os olhos fixos em um único ponto, ou pior, pensa o tempo todo no final da viagem, nada disso! Ele desfruta da paisagem, ele consulta seu guia, ele dialoga com o passageiro sentado ao seu lado. Ele aproveita a viagem viajando enquanto a maioria de nós fica parado e se deixa levar. Sempre havera quem critique os herdeiros dos ventos acusando de sonharem acordados, mas eu digo, nessa vida ou se sonha acordado ou se anda dormindo. Cada um que escolha o seu bonde.
Quando surgir a oportunidade de ficar preso por uma hora no trânsito de S. Paulo aproveite para explorar e apreender. Eu por exemplo descobre este belo costume da leitura no onibus e metro, mesmo que não seja dos mais saudáveis para as vistas e dos mais seguros para as bolsas. Falo por mim, quando afirmo que o prazer da leitura vale correr qualquer risco, o que não podemos é correr o risco de não ler.
Naquela viagem contei dezesseis pessoas lendo. Pode parecer pouco se comparado com o número muito superior de passageiros que não estavam lendo,concordo, mas ao menos empatava com a quantidade de passageiros que posso dizer com certeza que desfrutavam da viajem. S. Paulo é muitas coisas, boas e ruins, mas a imagem que me marcou foi a de uma cidade que lê.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Comentário: Nada a declarar

Impressionado e incomodado com a enxurrada de pseudo resenhas que infestam a net resolvi também entrar na dança por desaforo. já que no oceano do anonimato (ou da fama instantânea se preferir) vale até pichar páginas inteiras com pixels sem sentido por que eu deveria negar ao mundo a oportunidade de degustar minhas abobrinhas? Também sei dizer nada com nada e reclamo minha porção neste latifúndio. Creio que não seja difícil entrar para a prostituição intelectual. Com um pouco de esforço também posso rasgar seda por quem não julgo digno da mais áspera folha higiênica. Restando-me apenas lamentar por aqueles que vagam as cegas por estes mares virtuais a procura de especiarias como resenhas e ensaios que não se limitem a resumos e ao senso comum.
Cuidado, oh livre espirito! Lembre-se que uma opinião sólida é própria tanto do sábio quanto do tolo e tanto o ouro quanto o chumbo são tragados pela mais rasa das mentes.
Há oasis de coerência lá fora sem dúvida, mas não busque por pérolas nesta ostra. Eu sou só mais um a roubar seu tempo com uma piada sem sentido e que, se o Google quiser, vai virar hit como tudo que não presta. Falei!