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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

FANFIC-SUPERNATURAL : "O DEVORADOR DE ALMAS"

PREFÁCIO

Este conto é uma fanfic, uma história original que se passa em um mundo pré-existente e com personagens emprestadas. Neste caso me aproveito do mundo de Supernatural (ou Sobrenatural se preferir). E esta é minha segunda tentativa, pois havia escrito uma outra com tema natalino, mas desisti quando a introdução chegou à página 30. Esta segunda versão é mais simples e direta, mesmo assim bem mais complexa do que os roteiros dos episódios da TV.
Para ser o mais fiel possível a série fiz uma maratona e vi a primeira e a segunda temporada (nunca havia assistido dois episódios seguidos). Infelizmente reparei que alguns pontos da minha história repetem fatos da série e outros a contradizem. Por isso, peço que encare esta aventura como um episódio a parte, fora do conjunto, em um universo paralelo, por vezes muito parecido com o da TV mas essencialmente diferente; mesmo porque minha idéia original não era escrever uma fanfic, mas sim um conto de terror.
Por fim, sugiro que para sua maior satisfação leia este conto de uma só vez ou perderá muito do efeito dramático e estragará o clima se a leitura for suspensa, se possível leia à noite. E ajudaria se encarasse esta aventura como um episódio especial, um episódio duplo ou uma versão para o cinema, em que os irmãos Winchester entram em uma história de terror legitima, daquelas de 18 anos taxa preta e um tanto trash.


Introdução
Nova Orleans - Estado de Lousiana;
Julgamento em andamento: O povo contra Eric Kripke ;

Uma promotora exibe indignada para o júri o punhal usado pelo réu para realizar um sacrifício humano em um ritual de magia negra.
– Senhores jurados, esta é a arma com que o réu degolou friamente a pequena e indefesa Sarah de apenas sete anos. A mesma menina que ele raptou em um parquinho e manteve cativa por um mês a espera da data adequada para oferecê-la a uma divindade demoníaca da cultura hudu. Lembro também que o réu é suspeito de ter sacrificado doze crianças no total, desaparecidas na região nos últimos seis anos...
– Protesto meritíssimo! – interrompeu o advogado de defesa. – A colega promotora está induzindo o júri. Meu cliente não está sendo julgado pelo desaparecimento dessas crianças e sequer pelo assassinato de Sarah, mas por envolvimento com o desaparecimento dela. – alegou apesar de não ter dúvidas que seu cliente era culpado por estas e muitas outras mortes.
– Protesto aceito – decidiu o juiz.
– Mas meritissim...
– Eu sei Dra. Stuart, isto também não me agrada – disse o juiz, mas ele tem razão. A promotoria só dispõe de um punhal manchado com o sangue da vitima, mas de procedência questionável e a única testemunha ocular carece de credibilidade.
A promotora não teve alternativa a não ser mudar sua estratégia, mas sem evidências concretas era quase impossível sustentar qualquer argumento.
Enquanto isso no banco do réu um homem magro queimado de sol, cabelo ralo e nariz adunco lia em silêncio sua bíblia de bolso como se ignorasse que estava sendo julgado por rapto e homicídio.
Tudo parecia a favor do advogado de defesa, um sujeitinho pálido de olhar vazio, que alegava insanidade para seu cliente que não podia colaborar com a investigação por ter sofrido uma amnésia pós-trauma. Do lado oposto a promotora se embaraçava nos furos do processo e no meio de seu discurso teve um branco constrangedor. Só que não foi um branco.
– Algum problema Sra. Stuart? – indagou o juiz. –Você ficou pálida de repente. Está se sentido mal?
– Não Meritíssimo, estou bem. – respondeu a promotora abalada.
– Tem certeza? A senhora parece que vai desmaiar. – insistiu o juiz.
– Certeza. Foi só uma vertigem – mentiu a promotora recobrando-se.
Ela prosseguiu com a acusação, mas desconcentrada, confundindo detalhes do processo. Todos os presentes no tribunal pareciam perceber que algo estava perturbando-a, com exceção do acusado que permanecia de cabeça baixa murmurando sua oração.
O que ninguém percebeu, além da promotora, foi a presença de um estranho no tribunal. Ele estava nu e sua pele era negra e brilhante como piche e tremia como uma miragem, seus olhos eram brancos e não havia cabelo ou pelo em seu corpo. A figura surgia em um canto como um vulto e desaparecia assim que a promotora piscava, surgindo em outro ponto do tribunal. A coisa encarava a promotora apontando um dedo acusador com uma unha pontiaguda na direção dela.
– Sra. Stuart? Ainda está conosco? – perguntou o juiz para a promotora que abandonara seu discurso para encarar um canto da sala.
– Sim? Desculpem-me. Onde eu estava mesmo? – disse despertando de seu transe.
– Chega Sra. Stuart, você não está em condições de prosseguir. Faremos um intervalo de 15 minutos para que possa medir a pressão e respirar um pouco. – informou o juiz à corte.
A promotora não protestou entretida em procurar pelo recinto a figura que ninguém mais via. Do seu banco o réu sorria para sua acusadora.
– O que aconteceu com a senhora? Estava indo tão bem? Digo para um caso espinhoso como esse. Foi algo que você comeu? – perguntou Ana, uma colega da promotora e que vinha auxiliando no caso.
– Não é nada. Tenho apenas que lavar o rosto – disse indo para o banheiro feminino.
– Quer que eu te acompanhe? – ofereceu Ana.
– Não, estou bem. Você já ajudou muito, sem você não conseguiria ter montado a acusação no prazo. E como o advogado dele só sabe repetir feito papagaio “insanidade, insanidade” o desgraçado deve pegar perpétua, se Deus quiser. O estranho é aquele advogado ter cara de peixe-morto e o juiz pegar justo no meu pé – concluiu forçando um sorriso enquanto avançava pelo corredor até o toalete das damas.
O banheiro estava vazio e a promotora começou a se arrepender de não ter aceito que sua colega a acompanha-se. Ela se sentia insegura e ao mesmo tempo ridícula por temer uma alucinação. “Mas afinal de contas, que diabos era aquilo?!” , pensou enquanto lavava o rosto na pia. Neste instante sentiu uma língua fria e pegajosa correr por sua espinha. A mulher respirou fundo e levantou a cabeça devagar certa de que veria no espelho o reflexo daquela coisa atrás dela, aspirando seu hálito quente de enxofre em sua nuca. Porém, para surpresa e sorte dela não encontrou nenhuma figura assustadora no espelho.
A promotora Stuart riu de seu reflexo apavorado e se chamou de boba. Mas ao dar as costas para o espelho trombou com o vulto que estava realmente em pé atrás dela. A mulher abriu a boca para gritar, mas a criatura foi mais rápida e enfiou sua mão enorme dentro da boca dela. A promotora se ajoelhou no chão forçada pelo seu carrasco que enfiava o braço musculoso até o cotovelo em sua garganta e então o retirou com um puxão. Foi tudo muito rápido e doloroso.
– Sra. Stuart, eu... !!!
Ana entrou no banheiro com uma pasta de documentos e viu sua colega curvada no piso vomitando no azulejo um jato de sangue. Em questão de segundos ela viu cada gota de sangue da promotora ser expelido pela boca a golfadas. No meio da poça jazia um cadáver branco como giz tingindo a roupa de vermelho vivo.












Cap. 1: “O caçador enjaulado”

Três dias depois às 10 h.

Um impala preto 67 estaciona próximo à Prisão de Segurança Máxima de Nova Orleans e dois homens saem dele vestindo ternos e carregando valizes. O mais alto parecia incomodado com a roupa como se ela coçasse. O outro parecia à vontade como se tivesse nascido para usar terno e carregar valizes cheias de papéis importantes, ao contrário daquelas recheadas com jornal velho.
No interior do presídio havia um gramado com uma trilha pavimentada que levava à entrada dos prédios que formavam os pavilhões. Um guarda conferiu um documento apresentado pelo visitante mais jovem, tirado em um xérox, e indicou aonde deveriam ir. Não havia nenhum prisioneiro a vista, apenas sentinelas armados observando-os das guaritas seguirem seu caminho.
O mais novo dos dois rapazes reparou que o outro ignorava o aviso de “não pise na grama” e parou repreendendo-o com o olhar.
– Qual é, Sam?! Se não queriam que pisassem na grama não deveriam tê-la posto no chão. Uma baita contradição, não acha?
– Você não assistiu “A Fortaleza”, Dean? Esqueceu o que acontecia quando alguém pisava onde não devia?
– Relaxa Sam, nossos estômagos não vão explodir. Pelos menos não lembro de ter ingerido um explosivo no café-da-manhã .
– Não é isto, Dean. O que eu quis dizer é que estamos em uma prisão e devemos seguir as regras senão quisermos permanecer por aqui.
– Entendi, Sammy. Agora chega de chilique, que você é quem está chamando a atenção. Vamos – disse Dean entrando no prédio em que eram feitas as visitas aos prisioneiros.
Os irmãos foram recepcionados por mais um guarda que pegou suas assinaturas no livro de visitas: William Shateman e Leornd Nimoy ; depois os conduziu a uma cabine onde conversariam com um conhecido do pai deles. A cabine era um cubículo onde mal coube os dois Winchester sentados lado a lado, com uma divisória de vidro que separava os visitantes dos prisioneiros. A comunicação era feita através de telefones sem contato algum direto entre os interlocutores.
Sentado do outro lado da divisória havia um homem com cerca de cinqüenta anos usando um uniforme laranja fosforescente. O sujeito não pareceu feliz com a presença dos Winchester, apesar da ansiedade com que pegou o telefone e começou a falar sem parar com sua voz rouca.
– Por que diabos demoraram tanto!?! Se fosse caso de cadeira elétrica eu já teria virado churrasquinho! – reclamava cuspindo no vidro.
– Calma Singer , está embaçando o vidro. Quase não posso ver sua cara feia – provocou Dean.
– Deixa comigo, Dean – pediu Sam. – Desculpa a demora Sr. Singer, nós tivemos um imprevisto no caminho para cá...
– Dois para ser mais exato – cortou Dean.
– É, derrubamos uma ponte mal-assombrada e infelizmente ficamos do lado errado. Foi necessário uma volta de duzentos quilômetros p...
– Chega de explicar a incompetência de vocês – interrompeu o prisioneiro. – Não quero ouvir suas histórias de amadores. Agora, calados e prestem atenção no que vou dizer. – os irmãos obedeceram contrariados. – Eu sou um caçador como vocês, bem não como vocês – melhor; e cheguei a caçar com o pai de vocês, que Deus o tenha – disse fazendo o sinal da cruz. – Ele sim, era dos bons.
– Obrigado – agradeceu Sam.
– Não me interrompa moleque – resmungou Singer. – A visita é curta e tenho muito o quê contar – prosseguiu. – Eu estava caçando um feiticeiro hudu com Dallas, meu finado parceiro, quando fomos emboscados. O desgraçado do feiticeiro transformou o Dallas em um zumbi e fui obrigado a matá-lo. – os Winchester não puderam disfarçar a cara de indignação. – E não me olhem desse jeito, vocês também já devem ter feito coisas ruins para evitar coisas piores – disse Singer ofendido. – É como dizem no Bar da Estrada: “o trabalho de um caçador é sujo, mas alguém tem que fazê-lo”. – os irmãos não discutiriam a validade daquelas palavras, pois sabiam que havia todo tipo de caçador e não era a primeira vez que topavam com um do tipo Chuck Nory .
– Escutem – pediu Singer, isso aconteceu há quinze dias em uma fazenda de jacarés na região dos pântanos. Eu estava muito ferido e o feiticeiro iria sacrificar uma criança. Eu não tive escolha, liguei para a polícia; talvez se eu tivesse ligado antes a menina ainda estivesse viva. Mas como sempre digo: “não adianta chorar sobre o sangue derramado” – os Winchester se reviraram ao ouvir o comentário infeliz. – De qualquer forma o cara foi preso e só não vai pegar pena de morte porque esse Estado de maricas condena no máximo à perpétua. Portanto, para todos os efeitos, cumpri a minha obrigação como caçador tirando mais um monstro das ruas – vangloriou-se o prisioneiro.
– Porém...? – instigou Dean.
– Porém, foi o que eu pensei, mas estava errado – concluiu Singer.
– No telefonema o senhor nos disse que o feiticeiro continuou a matar, mesmo depois de preso – disse Sam.
– É, o filho de mãe matou a promotora com uma maldição ou encantamento. Eu tentei alertar as autoridades, mas como de praxe os sabichões não acreditam em feitiçaria. E como podem ver não posso fazer muito pessoalmente – disse Singer exibindo suas algemas.
– Verificamos o seu caso Sr. Singer – informou Sam. – Você foi pego em flagrante e está sendo processado por porte ilegal de armas com intenções terroristas...
– Eu tenho licença para portar armas de fogo! – protestou Singer.
– Sim, mas não para armamento militar, incluindo granadas. Sem falar que sua licença é canadense – explicou Sam. – Mas a lista continua: também é acusado de resistir à prisão e omitir informação a policia. E os federais acham que você é cúmplice do feiticeiro Eric Kripke.
– Mas eles não podem provar que sou culpado!
– Nem você que é inocente – retrucou Dean.
– É ai que vocês entram – disse Singer. – Pensei em passar o caso para um caçador mais experiente, mas quando liguei para Ellen no “Bar da Estrada” informando minha situação, ela me recomendou vocês. A Ellen me garantiu que atualmente eram os melhores caçadores da nova geração. Apesar de não gostar da “nova geração” confio na Ellen. E como conseguiram chegar até mim em uma prisão de segurança máxima sem serem presos também é sinal que algo vocês herdaram do velho John.
– Isto foi fácil, relativamente arriscado, mas fácil – garantiu Dean. – O Sammy manja de direito e eu sou cara-de-pau, um pulo no xérox e pronto, somos seus novos advogados. É claro que assim que sairmos daqui vamos ligar para Ellen providenciar um advogado de verdade para você. Ainda que umas férias forçadas até que te fariam bem, você tá acabadaço, camarada – provocou Dean.
– Seu...! – gritou Singer se levantando irritado e sendo segurado por um guarda que informava com um gesto de mão que a visita tinha terminado. – Se vocês estragarem a minha caçada juro que quando sair daqui darei cabo de voc... – ainda puderam ouvir o prisioneiro gritar enquanto era arrastado de volta a sua cela.
– Droga Dean! Ele podia ter nos dado mais pistas – reclamou Sam enquanto se levantavam para ir embora.
– Não esquenta Sam. Winchesters amam desafios. Mas você tem razão, fui duro com o tiozinho. Nós temos até algo em comum.
– Vocês? Deixa eu adivinhar: ambos são estúpidos?
– Há-há! Muito engraçado. Eu me refiro ao fato dele não gostar da “Nova Geração”, eu também prefiro a “Clássica”.
– Dean, acho que o Singer não estava se referindo a série de TV “Jornada nas Estrelas”. Ele estava era nos insultando.
– Que pena, por um instante ele me pareceu simpático – concluiu Dean irônico tirando seu paletó ao entrar no Impala 67.

***
Os irmãos Winchester encontraram pouca informação relevante nos jornais e na Net. A mídia estava confusa em relação ao caso do “Bruxo de Nova Orlenas” como foi batizado. O que eles conseguiram por meio da pesquisa de artigos foi apenas confirmar a história contada pelo caçador na prisão. Não encontraram informações precisas nem a respeito da forma como a advogada de acusação morrera. Por enquanto a caçada estava nebulosa.
Dean dirigia o Impala rumo ao necrotério da cidade para pegarem informações direto na fonte quando Sam chamou sua atenção intrigado com uma notícia de jornal.
– Dean pare o carro.
– De novo Sam. Eu disse para não exagerar no suco.
– É sério, dê uma olhada nessa notícia de hoje – disse Sam passando para o irmão um jornal recém comprado.
– Liquidação de pneus – leu Dean, você acha que os pneus da minha princesa estão precisando de uma reconchutada? – perguntou baixinho como se quisesse evitar que o carro ouvisse.
– Nada disso, Dean. Olhe aqui, estão informando que a promotoria nomeou uma substituta para a Sra. Stuart que faleceu há três dias atrás obrigando o juiz a suspender o julgamento.
– Parabéns Sam. Você encontrou a próxima vitima – elogiou Dean.
– Vitima em potencial, porque não permitiremos que o canalha ponha as mãos nela.
– Não, realmente não queremos que o canalha ponha as mãos dele na Srta. Ana Marques de Allende. Pelo visto é latina e eu já te disse como aprecio a cozinha mexicana, Sam? – disse Dean babando em cima da fotografia da advogada que assumia a acusação do Bruxo de Nova Orleans.
O impala fez uma curva fechada no meio de uma avenida e deu meia volta.
– Hei Dean, o que está fazendo? Ainda temos que consultar os registros no necrotério – lembrou Sam.
– Aposto que encontraremos uma cópia de tudo que necessitamos no escritório da Srta. Ana.
– Não creio que ela esteja disposta a ceder tudo o que nós necessitamos, Dean – disse Sam reprovando os impulsos do irmão.
– Você está subestimando meus talentos de persuasão. Deixa a meritíssima comigo.
– Ela não é juíza – corrigiu Sam.
– Não faz mal, eu não tenho juízo. Combinamos.
– Dean, o trocadilho foi péssimo e você não presta.
– Não é o que as mulheres pensam.
– Isto até te conhecerem, é claro.
– Detalhes, detalhes – concluiu Dean viajando em sua imaginação.












Cap. 2: “Os espinhos da Rosa”
Sam não concordava com os motivos nada inocentes que levaram Dean a trocar o necrotério pelo Tribunal de Justiça, mas não podia discordar que visitar uma jovem advogada era mais agradável do que enfrentar o cheiro de formal e o frio de um necrotério. E Sam também tinha consciência de que não ficava tão bem de branco quanto de terno.
Não foi difícil para eles se infiltrarem no prédio, mesmo estando amarrotado de policiais e jornalistas, nunca era difícil para eles entrar em qualquer lugar – o difícil era sair. Os irmãos estavam disfarçados de agentes do FBI, arriscando-se muito, pois não “eram” os únicos federais no tribunal, mas a balburdia da imprensa era tamanha que os seguranças estavam mais preocupados com os jornalistas do que com um federal a menos ou a mais.
Eles haviam pegado à planta do edifício no site da prefeitura e foram direto para o escritório da promotora encarregada do caso do Bruxo de Nova Orleans. No corredor, eles passaram por duas mulheres, uma tinha cara de secretária ou assistente e carregava uma pasta de documentos, a outra fazia perguntas a primeira a respeito de um caso em andamento. Os irmãos reconheceram esta como sendo a mesma da fotografia no jornal.
A mulher tinha vinte e quatro, mas aparentava ser mais jovem, trazia o cabelo negro e comprido discretamente amarrado e usava saia comprida, salto alto e uma camisa social como mandava a moda feminina nos tribunais, mas em breve começaria sua primeira sessão e ela vestiria a clássica bata por cima da roupa escondendo seu corpo delicado e leve.
Dean e Sam disfarçaram sua presença fingindo que conversavam sobre banalidades evitando olha-la diretamente, o que foi desnecessário; pois ela estava tão concentrada no caso que não os teria notado nem se estivessem caminhando pelados pelo prédio. E antes que a Dra. Ana virasse no final do corredor Dean deu uma boa olhada na “retaguarda” dela encabulando Sam que balançava a cabeça de um lado para o outro.
O passo seguinte seria recorrer ao charme do Dean para distrair a secretária enquanto Sam vasculha-se o escritório da Ana. Mas a sorte estava do lado dos Winchester. A mesa da secretária estava vazia com um aviso de “em sessão” o que presumiram que significasse que ela estava auxiliando a promotora em uma sessão. Provavelmente, a secretária era a moça que estava com a promotora. Sam se sentiu grato por não ter que ver seu irmão dar em cima de outra mulher, aliás, estava se convencendo daquela teoria que diz que as mulheres gostam de bad boys.
Dean usou uma gazua feita com clipe de papel para abrir a porta do escritório. Eles ligaram o modo lanterna de seus celulares e começaram a vasculhar o local. Como tinham experiência em invasão e procura por pistas não tiveram que revirar o lugar. Apenas abriram a gaveta marcada com a letra “K” de um arquivo puxando-a devagar para não fazer nenhum ruído e retiraram a pasta nomeada “Kripke, Eric”.
Era um arquivo extenso e os irmãos não tentariam lê-lo ali e também não podiam pegá-lo emprestado. A falta daqueles documentos poderia resultar no arquivamento do caso, o que só beneficiaria o feiticeiro, o qual queriam garantir que não escapasse impune. A solução foi usar um dos celulares para fotografar os textos e fotografias que formavam o arquivo.
Trabalho feito, eles colocaram a pasta de volta em seu lugar e se preparam para sair. Dean terminava de fechar a porta quando a doutora pareceu no corredor ainda vestida com a bata do julgamento.
– Posso saber o que estão fazendo parados em frente do meu escritório? – perguntou Ana desconfiada.
– Estamos esperando por voc... digo pela doutora para fazermos umas perguntas de rotina – respondeu Dean escondendo a gazua no bolso.
– Somos os agentes Axel e Osborne da divisão de crimes ritualísticos do FBI – disse Sam improvisando enquanto mostrava de relance seu distintivo assim como seu irmão.
– Nunca ouvi falar dessa divisão – disse Ana impaciente.
– É uma divisão nova e experimental. Esse é praticamente nosso primeiro caso – disse Dean tentando ajudar.
– Entendo – disse Ana se acalmando, então vocês não vieram por causa do Bruxo, mas para investigar a forma incomum que minha colega morreu.
– Exatamente – concordou Sam. – E já que nos entendemos que tal responder algumas perguntas para nós?
A promotora não estava certa das reais intenções daqueles dois estranhos, mas o seu sexto sentido lhe dizia para não ficar sozinha no momento “e até que esses dois não parecem ser má companhia”, pensou consigo.
– Ok, mas quero que saibam que não engoli esta história de Aquivo-X, para mim os dois são mais suspeitos que raposas em um galinheiro. Rasgo meu diploma senão forem repórteres mal disfarçados. Contudo tive uma primeira sessão de julgamento excelente e não me importo em dar uma entrevista aos “senhores roqueiros” – disse pouco convincente enquanto abria a porta e os convidava a entrar.
– Está é das minhas – comentou Dean para o irmão com malícia.
– Se comporte – pediu Sam baixinho também impressionado com a perspicácia da promotora. E com um algo mais que não queria admitir.
***
– A doutora tem um escritório muito bonito, combina com a dona – disse Dean atrevido entrando no escritório.
Ana ignorou o galanteio e pediu que eles se sentassem. Ela estava se esforçando para parecer séria e não deixar transparecer que gostou do elogio, mesmo se tratando de uma cantada barata.
– Onde estávamos mesmo? – perguntou Ana tentando se recompor.
– Eu estava dizendo como a doutora é bonita e... aí!
– Estamos trabalhando – lembrou Sam dando uma cotovelada no irmão. – Por favor, queira desculpar o meu colega, doutora. Ele fica bobo perto de mulheres encantadoras, mas se não for incomodo gostaria que a doutora contasse o que aconteceu com a promotora Stuart. E antes que nos deslumbre novamente com sua sagacidade, confesso que se fossemos do FBI já teríamos em mãos o relatório primário com seu depoimento. A doutora adivinhou, somos do Jornal Expresso de Nova York – disse Sam.
– Não é agradável relembrar o que vi, mas tudo bem, farei isso por vocês agora que começaram a agir honestamente comigo. Mas pode me chamar de “você” – disse Ana para Sam. – “Doutora” para você Don Juan – emendou se dirigindo ao Dean que ficou sem graça. – A promotora Stuart havia tido “vertigens” durante uma sessão do caso Eric Kripke há três dias e o juiz concedeu um intervalo para que ela pudesse se recuperar. Eu supus que fosse apenas efeito do estresse ao qual estava sendo sujeitada no processo. Condenar um serial killer é sempre traumático...
– Desculpa interrompe-la – disse Dean, mas este Kripke matou mais crianças?
– Ainda estou tentando provar que ele é responsável pelo desaparecimento de outras doze crianças. Mas até o momento não encontramos os corpos – explicou Rose.
– E sem corpo, sem crime – disse Sam.
– Mas estamos fugindo do tema da entrevista, a morte da promotora Stuart. Eu dizia que o juiz deu um tempo para ela descansar. As más línguas, de homens principalmente, diziam que a promotora estava “naqueles dias” ou certamente grávida. Pensamento tipicamente machista que impera nos tribunais e torna a pressão sobre as advogadas muito maior que sobre os homens. É essa cobrança extra é que deve ter feito mal a minha colega, ainda que eu duvide que foi o estresse que expulsou todo o sangue do corpo dela. – neste ponto Ana parou para respirar como se estivesse revivendo a cena no banheiro. – Quando o tempo esgotou fui ao banheiro feminino ver porque ela estava demorando – continuou Ana. Foi então que a encontrei de joelhos vomitando sangue. Gritei por ajuda e tentei socorre-la, mas foi inútil; ela já estava morta quando agachei ao lado dela me encharcando na poça de sangue.
– A polícia não informou aos jornais à causa da morte – observou Sam. – Haveria a possibilidade de ter sido um assassinato para impedir que ela prosseguisse com o julgamento. Talvez um cúmplice do Kripke?
– Não havia ninguém no banheiro quando entrei, e no corredor tinha um guarda que garantiu que a promotora Stuart ficara sozinha até eu ir procurá-la.
– A janela do banheiro – sugeriu Dean.
– Fora de questão – disse Ana, são vitrôs minúsculos com grades no terceiro andar virado para a rua. O Peter Pan não conseguiria passar por ali. E além do mais, não foi encontrado nenhum sinal de luta.
– Nenhum mesmo? – perguntou Sam.
– Depende.
– Como assim?
– É que já saiu o laudo do legista e fui informada que diferente do que suspeitavam não foi encontrada nenhuma substância nociva em seu organismo. Chegou-se a suspeitar de radiação e de câncer, mas a autopsia comprovou que ela era uma mulher saudável. Contudo, o legista identificou escoriações que iam da garganta até o estômago como se tivesse sido obrigada a engolir algo, como uma mangueira de aspirador de pó ligado ao máximo. A última anotação do legista foi que o estômago da minha colega estava virado pelo avesso e entalado no esôfago – disse Ana olhando para o chão resistindo ao impulso de chorar.
– Sentimos muito pela morte de sua colega de forma tão brutal – disse Sam tentando consola-la.
– No nosso trabalho vemos muita barbaridade como essa, mas nunca nos acostumamos – disse Dean. – Mas a doutora acha que a promotora não morreu de causa natural?
– A não ser que cólicas possam virar vísceras pelo avesso – respondeu Ana. – Eu não sei como, mas o culpado só pode ser o Kripke por meio de um cúmplice; e vou descobrir como ele a matou e somarei mais este crime a sua ficha – afirmou com obstinação.
– E você nem a polícia têm uma pista ou suspeita? – perguntou Sam.
– Para a polícia a morte da promotora Stuart não tem ligação com Eric Kripke. Segundo eles, Kripke agia sozinho, sem cúmplices, amigos ou parentes que pudessem auxiliá-lo. E de sua cela seria impossível ter atacado minha colega. – Sam e Dean se entreolham para expressar que aquilo não era bem verdade. – Mas pedirei que refaçam os exames da autópsia – continuou Ana, pois devem ter deixado algo escapar.
– Doutora, você disse que sua colega teve “vertigens” durante a sessão que antecedeu a morde dela. Poderia descrever exatamente as reações dela? – pediu Sam.
– Bem, ela alegou vertigens, mas eu diria que ela teve visões. – Ana mudou sua expressão de repente e os irmãos perceberam que a entrevista estava prestes a render frutos.
– Visões, você disse? Como assim? – perguntou Dean interessado.
– É, visões. O olhar dela se perdia em um canto do tribunal e então ela se desconcentrava como se estivesse hipnotizada – explicou perturbada.
– Curioso – comentou Dean para Sam. – Por acaso, foi como se sua colega tivesse visto um fantasma? – Dean perguntou tentando soar o mais natural possível.
Ana não precisou responder a pergunta por que uma batida na porta interrompeu a entrevista.
– Por favor, entre detetive Stone – disse Ana se levantando.
Um homem entrou no escritório apontando uma arma para os irmãos que não puderam reagir.
– Mãos na cabeça e devagar – ordenou o sujeito.
– Calma detetive – pediu Ana dando a volta na sala para se por ao lado do policial. Eles são inofensivos. No início pensei que fossem matadores profissionais, mas provavelmente são o que disseram ser, jornalistas amadores, nem perceberam quando enviei uma mensagem para você de meu celular.
– Por via das dúvidas levarei esses dois para uma verificação de identidade e um interrogatório – disse o detetive. – Não se preocupem rapazes, se forem inocentes escapam apenas com um “puxão de orelhas” e uma advertência, mas depois do que aconteceu com a promotora Stuart todo o cuidado é pouco – disse levando-os para o corredor.
– Parabéns, você nos pegou de jeito – disse Dean para a promotora.
– Achou mesmo querido que eu sou tão inexperiente assim para sair dando informações preciosas a torto e a direito? Arriscando atrapalhar as investigações e o julgamento? Eu estava apenas enrolando vocês até o detetive chegar para prendê-los. E tem mais, Stone, não esqueça de conferir os celulares deles. Aquela gaveta mal fechada em meu arquivo bem na letra “K” me diz que eles andavam bisbilhotando aonde não deviam – disse apontando para o seu arquivo.
– Ela realmente é das minhas – comentou Dean para Sam.
Sam pensava apenas em como mais uma vez sair estava provando ser mais difícil do que entrar.



Cap. 3: “O vulto assassino”

O mistério vinha se intensificando em torno do caso do “Bruxo de Nova Orleans”, mas de uma coisa os irmãos Winchester tinham certeza: estavam encrencados e não sairiam daquele prédio apenas com um puxão de orelhas e uma advertência, não com a ficha criminal que eles tinham. Assim que o detetive Stone recolhesse suas digitais estaria tudo perdido. Portanto, teriam que fazer algo a respeito e rápido, para o azar do detetive Stone que estava no caminho deles.
O detetive Stone chamou um dos seguranças do tribunal para ajudá-lo a escoltar seus prisioneiros até uma sala livre para interrogá-los. E como ao revistar suas roupas não encontrou nenhuma arma julgou que realmente se tratava apenas de dois jornalistas inofensivos, por isso, cometeu o erro de não os algemar. E enquanto verificava a carteira de Sam baixou a guarda dando a oportunidade perfeita para Dean tomar a arma do segurança e render os dois.
– Parados! Não queremos confusão. – disse Dean enquanto desarmava o detetive.
– Para quem não quer confusão você está sendo contraditório – observou Stone tirando um monte de identidades falsas da carteira do Sam. – Meninos maus, meninos maus – repetia Stone devolvendo a carteia. – Vocês nunca vão sair daqui vivos – alertou.
– Deixa de terrorismo, detetive. Ficaria impressionado com as vezes que escapamos vivos ou “quase” de lugares muito piores e mais bem guardados que este – disse Sam pegando sua carteira. – E quem disse que queremos ir embora? Ainda não terminamos nosso trabalho por aqui.
– Agora caminhem discretamente pelo corredor até a sala de segurança sem olhar para as câmeras de vigilância – ordenou Dean.
Os quatro encontraram alguns advogados e assistentes no caminho, mas ninguém prestou atenção neles. Sam ia atrás do segurança e Dean cuidava do detetive Stone. Eles levavam as armas no bolso debaixo da camisa sem intenção de usá-las, mas isso só eles sabiam. Na sala de segurança sacaram as armas novamente e renderam também o sujeito que cuidava das gravações.
Dean amarrou e amordaçou os seguranças em duas cadeiras giratórias e Sam ficou vigiando Stone.
– O que vocês querem? – perguntou Stone impaciente.
– Ajudar – respondeu Sam soando ridículo.
– Ajudar? – repetiu Stone fitando a arma que Sam empunhava.
– É, ajudar – disse Dean. – Mas primeiro você é quem tem que nos ajudar. A sua amiga promotora corre perigo e viemos aqui impedir que façam mal a ela, mas para isso temos que descobrir o que estamos caçando – disse Dean enigmático procurando fitas antigas em uma caixa.
– O seu colega é louco? – Stone perguntou a Sam.
– Ele não é meu colega, é meu irmão. E sim, ele é meio doido, mas logo você se acostuma – respondeu Sam dando nós na cabeça do detetive.
– Eureka! – festejou Dean examinando uma fita. – Sam, a etiqueta diz que é a gravação da última sessão que a promotora Stuart participou – disse colocando-a para rodar.
– Droga! Alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui?! – exigiu Stone.
– Mostra para ele, Dean – pediu Sam.
– É pra já – disse seu irmão correndo a fita até um dos momentos em que a promotora emudecia. – Se aproxime detetive e dê uma boa espiada nisso – convidou Dean.
O detetive ficou assombrado com o que viu. Determinadas cenas em que Dean congelava a imagem exibiam um vulto que surgia de repente e da mesma forma desaparecia. A coisa era pouco mais que uma mancha negra com a silhueta de um homem alto e robusto. Ela “pulava” de um canto para o outro da sala sempre seguida pelos olhos da promotora.
– O que é aquilo? – perguntou Stone assustado.
– Aquilo é o assassino da promotora – disse Dean à queima roupa. – E se não confiar em nós aquela coisa irá atacar a promotora Ana também – explicou oferecendo o revólver para o detetive como prova de confiança. – Pegue a arma detetive e faça o que achar certo, mas percebi no escritório que você e a promotora são amigos, e amigos protegem uns aos outros.
O detetive pegou a arma e Sam entregou a sua também. Stone pensou por um momento com as armas nas mãos e por fim as guardou.
– Não sei quem são vocês dois, mas foram os primeiros a lançar uma luz sobre a morte da Sra.Stuart, e por mais estranho que pareça, eu acredito em vocês. Fui eu que liderei a captura do Kripke na fazenda de jacarés; e vi coisas naquela noite que não me deixam dormir até hoje. Eu também sou testemunha de acusação e tenho apoiado ao máximo à promotora Ana, assim como auxiliei Stuart antes de sua morte. E mesmo me considerando um homem cético não posso negar uma certa influência sobrenatural neste caso.
– Excelente detetive, agora falamos a mesma língua – disse Dean. – Mas não temos tempo a perder, acreditamos que esta coisa estava só esperando um novo promotor ser nomeado para tornar a atacar. Você teria nenhuma dica para nos dar?
– Talvez – disse Stone apreensivo. – Eu estive presente na primeira sessão da Ana agora à tarde, e duas ou três vezes ela perdeu a fala e ficou encarando as paredes – disse sacando um dos revólveres. – É melhor vermos como ela está.
Sam e Dean abriram suas valises cheias de jornal e do meio deles retiraram uma espécie de chocalho tribal e um espelho de mão. E deram um amuleto para o detetive que o examinou intrigado.
– Sua arma é inútil, use o amuleto e proteja sua amiga enquanto nós atacamos o demônio – disse Dean muito sério.
Stone colocou o amuleto em volta do pescoço sem discutir.
– Estamos prontos. Vamos! – disse Sam tomando a frente.
Eles saíram da sala de vigilância correndo. E ainda amarrados nas cadeiras os dois seguranças agradeciam por não terem sido convocados para enfrentar demônio algum. Eles estavam de comum acordo que não ganhavam o suficiente para arriscar suas almas.

***
O julgamento deixou Ana exausta e a conversa que teve com Sam e Dean trouxe à tona lembranças ruins que pioraram seu humor. Mas tinha que admitir que de certo modo foi bom conversar com os Winchester. Atualmente o único homem com quem conversava era com seu amigo Stone, amizade que herdou da promotora Stuart junto com o cargo. Mas não que a companhia do detetive não fosse agradável, contudo, ele era vinte anos mais velho e só sabia falar do “Bruxo”. Ana sentia que precisava terminar urgente aquele processo, garantir que o Kripke nunca mais saísse da cadeia para então sair e conhecer alguém interessante.
Porém, a mais nova promotora de Nova Orleans não podia se dar ao luxo de pensar em suas necessidades pessoais. Havia interesses públicos em jogo. A promotoria ainda não havia conseguido uma prova sequer do envolvimento de Kripke no desaparecimento e suposta morte de doze crianças antes de Sarah, a última vitima. E o advogado de defesa estava alegando insanidade mental para aliviar a pena de seu cliente, um recurso que apesar de manjado, raramente falhava. Por isso, não podia vacilar ou não só perderia seu primeiro grande caso arruinando sua carreira, como também deixaria de fazer justiça e desonraria a memória de sua falecida colega.
E como nenhuma desgraça vem desacompanha também começara a ter alucinações. Como se já não tivesse problemas suficientes para uma vida inteira, tinha que lidar também com sua mente lhe pregando peças. Ana esperava que o juiz não tivesse percebido que uma ou duas vezes durante a sessão passara mal como a promotora Stuart. Mas se reparou deve ter relevado, interpretando como nervosismo de principiante. E como a explicação mais simples costuma ser a correta, deve ter sido o nervosismo mesmo que a fez ver coisas aonde não havia.
Entretanto, Ana não conseguia se esquecer da coisa nebulosa apontando para ela de jeito agourento. E só se sentiu segura na presença dos dois estranhos que flagrou espionando seu escritório. Ela realmente foi com a cara dos Winchester, mas uma mulher na sua posição e com sua responsabilidade tinha que manter pose de durona.
Ana estava suspirando sentada em sua mesa quando sentiu a temperatura cair bruscamente no escritório. Por um segundo pensou que fosse uma corrente de ar, mas se lembrou que a janela atrás de si estava fechada e o ar condicionado desligado. Foi então que viu a sombra de homem do tamanho de um urso crescer no chão a sua frente e subir até o teto. A criatura que projetou aquela sombra sinistra tinha que estar de pé bem atrás dela. Rose prendeu a respiração e saltou de sua cadeira no instante em que uma mão gigantesca com garras a partiu em duas.
A promotora se arrastava de costas pelo chão, tremendo diante da coisa hedionda que a atacara. O monstro tinha contornos humanos, mas estava em constante mutação como se fosse feito de um líquido ou gás, hora era negro como petróleo, ora translúcido como cristal e dentro rostos desesperados clamavam por socorro. Era uma visão infernal que Ana levaria para o túmulo - mas não hoje. A ajuda havia chegado.
Uma força invisível segurava Ana no ar espremendo-a toda quando Sam, Dean e Stone entraram com tudo no escritório. A criatura os ignorou abrindo sua boca para engolir a cabeça da moça que não podia sequer se debater ou gritar.
Stone descarregou seu revólver no demônio, mas as balas passaram direto por ele se alojando na parede. Sam e Dean tiveram mais êxito com seus artefatos mágicos. Sam agitou seu chocalho cerimonial causando espasmos na criatura que largou Ana no chão. Já Dean mirou o reflexo do espelho no demônio queimando-o. A criatura urrava de dor, mas o som parecia sair da boca de uma dúzia de crianças.
– Você está bem? – Stone perguntou a Ana apoiando a cabeça dela em seu colo.
Ela estava meio inconsciente e o detetive tentava reanima-la enquanto a dois metros dali os Winchester lutavam com uma besta semi-invisível que estava destroçando o escritório com seus espasmos.
– Sam, não está funcionando! Essas coisas machucam o demônio, mas não podem destruí-lo – gritou Dean desviando-se da mesa que veio voando em sua direção e se espatifou na parede.
– Isto não é um demônio hudu. É algo muito pior e mais poderoso – respondeu Sam quando o chocalho em sua mão estourou enchendo seus olhos com areia.
O espelho que Dean usava como arma também estourou e a criatura se vendo livre dos objetos mágicos voltou a atacar Ana.
– Não ouse se aprox...!!! – ia dizendo Stone se interpondo entre a amiga e a criatura que praticamente o atropelou.
O que aconteceu a seguir foi rápido demais para que os Winchester pudessem intervir. O homem foi torcido no ar como um trapo molhado. E o que um dia foi um corpo caiu desmantelado no chão com todos os tendões arrebentados e ossos moídos. Porém ao entrar em contato com o amuleto do detetive a criatura se dissolveu em faíscas desaparecendo.
Um grupo de seguranças armados surgiu na porta do escritório atraídos pelo barulho e viram uma cena macabra: Sam e Dean ajudando a promotora a ficar de pé e ao lado o detetive Stone retorcido em um lago de seu próprio sangue.

















Cap. 4: “O Bruxo de Nova Orleans”

Vocês tem visita – informou o guarda que vigiava a sala em que os Winchester foram confinados.
Sam e Dean se levantaram para receber a mulher que tinham salvado a pouco mais de uma hora de ser devorada viva por um demônio.
– Ficamos felizes de ver que está bem – disse Sam amigável.
– Bem?! Como posso estar bem depois de ser atacado por um... um... sei lá o quê diabólico e ver um amigo ser trucidado? – desabafou Ana. – E, por favor, quero falar com eles a sós – pediu ao guarda.
– Desculpa doutora, mas recebi ordens para guardar os suspeitos até o FBI vir busca-los – disse o guarda.
– Eu não vou ajudá-los a fugir e se quisessem me fazer mal já teriam feito – retrucou Ana.
– Mas...
– Sem mais. Você pode vigiar do lado de fora – sentenciou Ana, e o guarda não teve escolha senão obedecer. – Pronto, agora podemos falar a vontade rapazes – disse Ana puxando uma cadeira. – Eu já fui informada de quem são: você é Dean e ele é Sam, os famigerados irmãos Winchester, procurados em oito estados americanos com transgressões à Lei registradas em mais seis estados. As acusações vão dê direção perigosa e profanação de túmulos até assassinato a sangue-frio. Já foram detidos algumas vezes e sempre escapam. Mas o que me chamou mais a atenção no dossiê que o FBI me passou foi que vocês são uma versão tímida de “Bonny e Clyde” , evitam os holofotes, mas não as confusões e entre aqueles que seguem a trilha deixado por vocês corre uma “lenda urbana” de que são dois caçadores de demônios e criaturas sobrenaturais em geral. Então rapazes, por onde querem começar a se explicar? – Disse a promotora cruzando os braços e se ajeitando na cadeira na expectativa de uma longa história.
– Acho que encontramos uma mulher com detector de mentiras embutido, Sam. O que fazemos agora? – perguntou baixo para o irmão.
– Acho que é hora de contar a verdade – disse Sam em voz alta para que a promotora ouvisse claramente.
– Ok Sam – concordou Dean. – Doutora, você nos pegou de jeito dessa vez. Admitimos, somos “Bonny & Clady”, eu sou o Clady, é claro. E muito nos envaidece saber que viramos uma “lenda urbana”. Pode ser que isso explique porque é tão difícil dar cabo da gente. Mas já demos provas de que somos os mocinhos e não vejo necessidade de convencê-la de que criaturas sobrenaturais existem. Estou errado?
– Não – respondeu Ana. – Senão acreditasse que aquela coisa é real eu já teria entregue os dois para a custódia dos federais. Pedi ao juiz que os mantivesse por perto porque estavam envolvidos no caso do “Bruxo” e precisava do depoimento de vocês. Porém, não vou mentir tem um monte de tubarões do FBI vindo para cá agora mesmo brigar por um pedaço dos irmãos Winchester. E mesmo com o meu depoimento a favor de vocês a polícia os têm como principais suspeitos de terem matado o detetive Stone. Só não sabem explicar como fizeram tamanho estrago com as mãos. Confesso que nem tentei explicar sobre a coisa, não seria inteligente da minha parte por a culpa em uma assombração – disse Ana.
– Agiu corretamente – disse Dean. O juiz iria afastá-la do caso se desconfiasse que vê “pessoas mortas” – disse imitando a voz do garoto em o “Sexto Sentido”.
– Ok – disse Ana, vocês são como caçadores de recompensa, mas em vez de caçarem criminosos foragidos caçam almas perdidas. Incrível, mas suspeito que não são os primeiros caçadores que conheci nesta semana – contou Ana pensativa.
– Você conhece outro caçador? Quem? – perguntou Dean.
– Ela deve estar se referindo ao Singer – apressou-se Sam em dizer.
– É ele mesmo, Robert Singer de 55 anos e canadense. Foi quem ligou para a polícia entregando o paradeiro de Kripke. O sujeito está detido na prisão de segurança máxima de Nova Orleans sobre tantas acusações quanto vocês. Sinceramente, nem Stuart, Stone ou eu achamos que ele seja culpado, ao menos quanto a ser cúmplice do Kripke, mas o infeliz foi pego pelo Stone todo ferido na cena do crime com uma arma na mão e um tal de Dallas, amigo dele, morto no chão. Os dois eram canadenses, mas viviam na América sem residência fixa ou trabalho. A promotoria tentou fazer um acordo com o Singer, mas ele não consegue sequer explicar de forma coerente o que estava fazendo com um arsenal de guerra na fazenda de jacarés de um psicopata. Todavia, as peças do quebra-cabeça começam a se encaixar e o caso começa a fazer sentido, mas ainda está fantástico demais para ser apresentado a um júri popular – lamentou Ana.
– E vai ficar pior – disse Dean. – Mas, por favor, nos conte o que foi que o velho Singer declarou em seu depoimento oficial.
– Vejamos – disse Ana forçando a memória. – Ele declarou que ele é seu colega haviam saído para caçar jacarés, mesmo sabendo que era ilegal. A noite caiu e eles se perderam no pântano escuro. Mas uma luz ao longe, que a principio julgaram ser um fogo-fátuo, os atraiu e deram com uma cabana dessas suspensas sobre a água lodosa do pântano. E segundo Singer, ele e seu colega de caça se aproximaram cautelosamente do lugar temendo que fosse o esconderijo de algum bandido. Singer disse que havia ouvido falar que era comum seqüestradores usarem cabanas na região dos pântanos como cativeiros. Então pensaram que poderiam investigar aquela e quem sabe prender algum seqüestrador e ganhar uma recompensa em dinheiro. Porém, ao espiarem por uma janela o que encontram foi o Kripke vestindo trajes cerimoniais invocando espíritos malignos diante de uma lareira rudimentar. E as chamas dela eram altas e crepitavam como línguas vermelhas açoitando o ar a cada palavra dita pelo Kripke na língua hudu. Mas o mais assustador era que entre ele e o fogo estava uma menina amarrada e deitada no chão. Ela estava acordada, mas mexia o pescoço e revirava os olhos como se estivesse dopada. Singer e Kripke não pensaram duas vezes e invadiram a cabana armados.
– É bem a cara dele – comentou Dean interrompendo-a. – Desculpa, o que aconteceu quando eles entraram?
– Singer alegou que ao arrombarem a porta o feiticeiro jogou um pó na lareira e uma bola de fogo estourou na direção deles como uma bolha de sabão incandescente. Eles se jogaram de lado rolando pelo chão e quando Singer se levantou a cabana estava tomada por uma fumaça fedida e arroxeada. A sua frente estava o feiticeiro no mesmo lugar rindo para ele. Singer quis abatê-lo com um tiro, mas foi derrubado primeiro por uma coronhada na nuca.
Ao despertar estava amarrado em um pilar no centro da cabana. O seu parceiro Dallas estava de pé montando guarda com uma doze apontada para o peito dele. Singer perguntou ao amigo o que estava havendo, mas Dallas babava em resposta com os olhos brancos. O feiticeiro então apareceu em seu campo de visão e se apresentou. Disse que se chamava Eric Kripke e que não gostava de visitas surpresas - principalmente em noite de sacrifício. Singer ameaçou sem efeito algum além de provocar mais risos no feiticeiro. Ele explicou que Dallas agora era seu escravo e se Singer ainda estava vivo era porque precisa de alguém para um experimento assim que terminasse o sacrifico. E recomeçou o ritual desde o inicio enquanto Dallas vigiava Singer.
A situação era grave e Singer não via como se soltar e mesmo que pudesse suas armas foram retiradas, mas um volume no bolso de trás da calça dele salvou-lhe a vida. Dallas não havia pego seu celular e com muito trabalho Singer discou para a polícia e tentou forçar uma conversa comprometedora com o Kripke em voz alta. O Feiticeiro não quis saber de papo e amordaçou Singer para que não atrapalhasse mais o ritual e avisou que só não lhe cortou a língua porque não podia profanar o punhal antes sacrificar a pequena Sarah. E a atendente da polícia estava ouvindo e gravando tudo. O detetive Stone e sua equipe foram mobilizados e partiram para a região dos pântanos rastreando o sinal do celular.
Eric Kripke estava terminando o ritual e estava a ponto de degolar sua vitima quando o som de uma tabua rangendo chamou sua atenção. Alguém da equipe do Stone fora descuidado e pisara numa tabua solta na ponte que levava até a cabana denunciando o ataque. Lá dentro o feiticeiro praguejou e mudando de oração levantou as mãos para o alto invocando seus aliados do pântano.
– Aliados? Perguntou Sam.
– Jacarés, os maiores já vistos nessas bandas – disse Ana. – Foi o que Stone colocou em seu relatório. Ele disse que dezenas de lagartos endemoniados saíram do lodo e atacaram os policiais que cercavam a cabana. Foi um massacre, dos vinte e dois homens da equipe metade foi retalhada até a morte e a outra escapou mutilada, muitos jacarés morreram também fuzilados.
– Agora me lembro. Nós lemos a respeito nos jornais. Bizarro – disse Dean não se contendo.
– Stone foi o único que chegou a entrar na cabana – continuou Ana. – Ele entrou atirando pela porta arrombada e foi recebido pela doze de Dallas que o atingiu de raspão no ombro direito. Mas Dallas também foi acertado caindo encostado ao Singer que o enlaçou com as pernas e o sufocou.
Enquanto corria essa algazarra Kripke pulava estágios do ritual e com um corte limpo abria a garganta de Sarah jogando seu corpo em seguida nas chamas da lareira. Kripke estava entretido em seu duelo com Dallas e não viu a triste cena, mas Singer testemunhou Sarah ser consumida pelo fogo. Stone lembrava apenas de ter ouvido um grito estridente de criança e uma explosão vinda da lareira que espalhou uma cortina de fogo pelo teto de palha da cabana.
O detetive libertou Singer que estava se engasgando com a fumaça e juntos se arrastaram para longe dali. Eric Kripke estava fugindo quando surgiram reforços. Um helicóptero da polícia lançou suas luzes sobre ele que se rendeu ajoelhando-se na lama e pondo as mãos na cabeça ainda empunhando o punhal manchado de sangue.
– Uau, que história sinistra mesmo para os nossos parâmetros – disse Sam. – Mas li que não encontraram o corpo da pobre menina.
– Infelizmente, é verdade – confirmou Ana. – O pântano foi drenado e os destroços da cabana vasculhados minuciosamente, mas não foi encontrado um fio de cabelo ou osso que pudesse incriminar Kripke pela morte de Sarah e muito menos do desaparecimento das outras doze crianças, todas de sete anos com o mesmo perfil da Sarah. A hipótese mais plausível é de que o Kripke alimentou os jacarés com os corpos das crianças e queimou suas roupas. Tem sido um desafio, mas a promotoria tem trabalhado apenas com o punhal como prova e com o testemunho de um sujeito que a palavra não vale muito.
– Você está se referindo ao Singer? – perguntou Dean.
– Sim – respondeu Ana, como disse ele está na penitenciária esperando ser convocando para depor perante o júri.
– E o Kripke, onde ele está?
– Na mesma penitenciária – disse Ana tentando entender aonde Dean queria chegar.
Os irmãos se entreolharam e resmungaram coçando a cabeça.
– O que foi? Qual o problema agora? – perguntou aos rapazes inquietos.
– Ana, é o seguinte, a coisa que matou a promotora Stuart e o detetive Stone está fazendo uma “queima de arquivo”. Primeiro ele atacou a promotora, depois a substituta e o detetive que prendeu seu mestre. E como a criatura falhou em eliminá-la, presumimos que antes de tentar novamente passará para o próximo da lista.
– De qualquer forma o Singer está bem protegido – disse Ana.
– Ninguém está protegido daquela coisa enquanto não dermos um jeito no Kripke. E ele já deve estar sabendo que há mais caçadores envolvidos e irá tomar providências. Doutora, você tem que ajudar a levar eu e meu irmão à penitenciária urgente – disse Dean aumentando a voz.
– Esperem, irei ligar para um amigo que trabalha na penitenciária verificar os prisioneiros – disse a promotora tirando um celular branco de sua bolsa.
– Rapazes, vocês têm razão, há algo de estranho acontecendo na penitenciária – disse preocupada guardando seu aparelho.
– Seu amigo falou que o Kripke escapou ou Singer foi morto?
– Não Dean, pelo contrário, disse que está tudo bem por lá. – os irmãos fizeram cara de interrogação. – Meu amigo falou com a voz mole igual ao advogado que defendi o Kripke, que aliás, se comporta de um jeito parecido com o que Singer descreveu o Dallas.
– E agora? Alguma sugestão? – perguntou Dean para a promotora.
– Tenho sim – disse tirando uma arma de sua bolsa. – Eu chamo o guarda, vocês fingem que estão me seqüestrando, trancam ele aqui, pegamos o carro de vocês e fazemos uma visita noturna à penitenciária. Ou acham que não conseguiriam entrar lá? – perguntou sorrindo.
– Entrar é fácil – disse Dean animado.
– Sair é que é difícil – completou Sam apreensivo.
Cap. 5: “A noite dos zumbis”

Na estrada rumo à penitenciária ao entardecer.
–Vocês têm um belo carro – elogiou Ana no banco de trás.
– Valeu – agradeceu Dean vaidoso.
– Ele era do nosso pai – disse Sam sereno.
– Eu li sobre o pai de vocês. Foi ele que os ensinou a caçar?
Os irmãos apenas confirmaram com um balanço de cabeça.
– E sem querer ser impertinente, mas ele deu uma aula sobre essa coisa em especial que está matando para o Kripke?
– Quando caçamos com ele nunca topamos com nada parecido, nem há indicações no diário que nosso pai nos deixou com instruções de como caçar essas criaturas. Mas estamos na estrada há um bom tempo e aprendemos muito por conta própria. – disse Sam carregando sua arma com munição de sal grosso.
– Então sabem o que estão caçando? – insistiu Ana.
– Sabemos. É um It ou devorador de alma como é mais conhecido no Haiti apesar de não pertencer ao hudu precisamente. É uma aberração fantasmagórica inventada por brancos que se meteram a praticar magia negra misturando hudu, vudu e satanismo. Mas pensamos a principio que fosse um demônio ou entidade hudu a serviço do Kripke. Por isso usamos o chocalho e o espelho que costumam funcionar bem contra o tipo de coisa conjurada em um ritual genuinamente hudu – disse Sam.
– Porém, Its não são conjurados, são gerados no puro mal – disse Dean no volante.
– Como Kripke gerou o It? – perguntou Ana sentindo um frio na barriga.
– Você não vai querer saber – disse Dean.
– Por favor, me digam. Eu desconfio, mas não posso acreditar que alguém seja tão cruel. – disse a promotora.
– Certo – disse Sam, há várias maneiras para se gerar um devorador de almas, mas Kripke optou pela clássica. Ele raptou treze crianças de sete anos e as descarnou alimentando com seus ossos uma chama infernal. O fogo e a cinza dos ossos vira uma criatura disforme e translúcida que passa a viver em um fetiche, um objeto mágico como a lâmpada de Aladim. Então quando alguém aborrece o dono do objeto basta que ele escreva o nome de seu desafeto com sangue no objeto para que o It saia à caça de sua alma. Mas como Kripke foi atrapalhado na etapa final do ritual o It que ele gerou não é dos mais fortes – explicou Sam.
– Fala sério Sam, não lembro de termos enfrentado um monstro tão forte antes. – protestou Dean.
– Concordo, mas acredite, se o Stone e o Singer não tivessem atrapalhado o Kripke ele teria gerado um monstro invencível e a essas horas já estaríamos mortos.
– Espere um momento! – disse Ana chamando a atenção dos irmãos. – Quer dizer que aquele It tentou comer a minha alma? – perguntou Ana nauseada.
– Alma ou espírito – disse Dean, não sabemos se há diferença e se houver, qual porção espiritual agrada mais ao paladar de um It.
– Então aquela dor insuportável que subia pelo meu corpo quando fui atacada como se meu espírito estivesse sendo arrancado pela raiz...
– Você entendeu doutora – cortou Dean.
– E como se destrói um devorador de almas?
– Quebrando o fetiche que quase sempre é um livro ou pergaminho – respondeu Sam.
– O Kripke se “converteu” ao cristianismo na prisão e comparecia ao tribunal sempre com uma bíblia de bolso. – comentou Ana. – Seria o disfarce perfeito, quem desconfiaria de uma bíblia? Meu Deus, quando o assunto é “Kripke” tenho a impressão que os sacrilégios não têm fim.
– Melhor assim, pelo menos já temos um alvo. Agora é só acertá-lo. – disse Dean acelerando o Impala.
No horizonte o Sol descia sangrando sob o peso da noite.

***
Ao cair da noite no portão da penitenciária.
O advogado de Kripke está na entrada da prisão pedindo permissão para visitar seu cliente, mas o guarda da noite explica que apenas com um mandato expedido por um juiz ou com ordem do diretor era permitido visitas fora do horário normal. O advogado com ar débil não discutiu; ele simplesmente seguiu a recomendação dado pelo seu mestre caso alguém não cooperasse; tirou um pouco de um pó roxo do bolso interno de seu paletó e sobrou no rosto do guarda que passou a cooperar imediatamente.
O advogado repetiu o procedimento com todo mundo que encontrou pelo caminho deixando para trás um rastro de zumbis babões. Ele pegou a chave do chefe dos guardas e consultou em um mapa na parede onde ficava a cela de seu mestre, dois minutos depois estava diante de Kripke que lia uma bíblia de bolso sentado em sua cama.
– Fez o que eu ordenei? – perguntou Kripke sério.
O advogado em vez de responder abriu sua valise e retirou dois embrulhos que entregou a Kripke.
– Perfeito, você me serviu bem – disse o prisioneiro examinando os embrulhos. – Agora procure um lugar alto e mergulhe de cabeça – ordenou ao advogado que saiu sem pestanejar a procura de uma janela sem grades.
Kripke pegou um dos embrulhos e tirou o pano vermelho que o envolvia. Era um pacote de plástico cheio do mesmo pó roxo que o advogado usou para controlar a mente dos guardas. Ele derramou o conteúdo do pacote no chão formando um montinho, em seguida deu início a um mantra mágico, e um rodamoinho sobrenatural começou a soprar em sua sala. O vento suspendeu o pó e saiu pelos corredores espalhando-o por todas as frestas. Quando terminou só havia dois homens lúcidos na penitenciária. Um deles era o próprio Kripke e o outro estava na lista negra do devorador de almas.

***

O Impala parou na frente do portão do presídio e os três passageiros desceram dele. Não havia luzes nas guaritas do muro e nenhum som vinha de dentro do presídio.
– Olhem ali – apontou Ana reconhecendo o carro do advogado de Kripke estacionado logo enfrente.
– Isso explica porque o lugar parece um cemitério – disse Dean. – Quer apostar que o filho da mãe é um zumbi, Sam?
– Não só é um zumbi como a essa altura já transformou todo mundo aí dentro também – disse Sam.
– Os dois poderiam parar de falar em língua de caçador para que eu possa entender? – reclamou Ana.
– Foi mal – disse Dean. – O Kripke está usando uma fórmula milenar a base de veneno de baiacu muito popular entre feiticeiros para controlar a mente das pessoas.
– E zumbis são como mortos-vivos?
– Não, esse é um clássico erro de generalização. Os zumbis são seres vivos, pessoas manipuladas como marionetes – esclareceu Sam.
– Tipo como se estivessem hipnotizadas?
– Antes fosse – lamentou Dean, pessoas hipnotizadas conservam o instinto de auto preservação, já um zumbi é cem porcento dependente da vontade de seu amo. Dá até pra ordenar que se suicidem. Mas dependendo da dose de veneno de baiacu a qual foi submetido um homem pode aparentar um aspecto levemente doentio como o advogado do Kripke, ou se comportar como um legítimo morto-vivo de filme preto-e-branco, daqueles que se arrastam e trombam com as paredes.
– E como se combate um zumbi?
– Simples, você sabe usar uma dessas? – disse Dean oferecendo uma arma de choque para ela. – O choque irá derrubá-los sem matá-los e amanhã acordarão com uma tremenda dor de cabeça, mas vivos. E o efeito passa depois de um tempo sem o veneno. Agora beba isso doutora – disse passando um cantil para ela.
– O que é isso? – perguntou cheirando o conteúdo e fazendo careta.
– É o antídoto – respondeu Sam. Temos que tomar para não corrermos o risco de sermos contaminados. Mas gostaria de dizer que você não precisa tomar, que bastaria esperar no carro e acionar as autoridades se não voltarmos em uma hora. Deste modo ficaria segura e ajudaria mais do que se expondo para o Kripke. Entretanto, seu nome está na lista do It e ele não se esqueceu de você. Portanto é melhor ficar onde possamos protege-la – explicou Sam.
– Agradeço que se importem com minha segurança, rapazes. Mas esse caso é meu também e não faz meu estilo deixar que terceiros resolvam meus problemas. – disse Ana tampando o nariz e engolindo um liquido que lembrava xarope para tosse misturado com urina. – Eca!
– Não pergunte do que é feito – recomendou Dean.
– Vamos? – convidou Sam engatilhando sua espingarda.
– Um instante. – pediu Ana enquanto rasgava sua saia do tornozelo até o meio da coxa o que lhe valeu um assovio do Dean. – Pronto, agora podemos ir. – disse Ana de arma em punho.
– Só faltou amarrar uma faixa na testa, doutora. – comentou Sam.
– Eu adoro essa parte do trabalho, irmãzinho – disse Dean também engatilhando sua arma e sem tirar os olhos das coxas da promotora.
Assim o trio entrou no presídio pela porta da frente que estava aberta e sem vigia.
– Isso tá com cara de armadilha – comentou Ana seguindo-os pelo pátio escuro.
– Deve ser porque é uma armadilha, mas não esquenta princesa. O Sam e eu tiramos isso de letra. É nossa marca registrada sair vivos de armadilhas – disse Dean sem convicção.
Eles chegaram na entrada do pavilhão onde deveria estar trancado o Kripke e não viram nada suspeito pelo caminho, o que por si só era muito suspeito.
– Sam, eu vou entrar e verificar o corredor. Você fica aqui na fachada com a doutora e me dá cobertura.
– Ok – respondeu Sam.
– E Sammy – disse Dean virando-se uma última vez.
– O quê?
– Comporte-se com a doutora, hein – disse piscando para os dois.
– Não ligue para o meu irmão – disse Sam à moça agradecendo a escuridão por esconder sua face ruborizada.
– Tudo bem – respondeu Ana achando graça no acanhamento dele. – Compreendo que deve ser complicado conhecer garotas com o tipo de vida que vocês levam. – disse se aproximando de Sam e não acreditando que estava flertando numa hora daquelas com um monstro em seu encalço.
– O Dean discordaria – disse Sam entrando na brincadeira. Para ele nossa rotina nunca foi empecilho para conhecer mulheres. Ele faz o tipo canastrão e a mulherada não resiste a um cafajeste boa pinta.
– Mas com você é diferente – arriscou Ana encostada em Sam.
– Realmente. É que a última mulher que amei morreu por causa do que minha família faz.
– Sinto por você – disse tocando no braço dele.
– Era para ela ser uma advogada como você, aliás, eu também deveria ser. Mas o destino tinha outros planos para mim. – disse tocando-a também.
Os dois estavam com os rostos colados quando um corpo caiu do lado deles espirrando vísceras.
– Oh não! É o advogado do Kripke. Ele caiu? – perguntou Ana se afastando do corpo desconjuntado e tampando a boca com as mãos.
– Eu diria que o Kripke dispensou os serviços dele – disse Sam abraçando a moça.
Mas mal se recuperaram do susto e eis mais um. Dean saiu do prédio correndo e trombou com eles.
– O que aconteceu aqu...? – ia dizendo ao ver o corpo do advogado e seu irmão abraçado com a doutora. – Deixa pra lá, corram que tem uma multidão de zumbis me seguindo!
– Correr para onde? – perguntou Sam.
– Precisamos de reforços. Vamos procurar o Singer. Ele não deve ter se deixado eliminar facilmente pelo Kripke.
E os três correram para o pavilhão do Singer com uma centena de prisioneiros zumbis brotando de todos os cantos atrás deles.

Cap. 6: “Não há descanso para os maus”

Uma Lua tímida despontava no seu céu enevoado iluminando uma cena inusitada. Três pessoas fugindo de zumbis vestidos com uniformes azul bebê. Kripke havia exagerado na quantidade de pó criando uma legião de soldados lerdos e babões, mas que quebrariam os ossos de seus inimigos se conseguissem encurrala-los.
– Isso esta parecendo a Colina do Diabo quando os fantasmas dos pacientes do hospício atacam. – comentou Dean que abria caminho atropelando os zumbis como um zagueiro de futebol americano.
Logo atrás vinha Sam de mãos dadas com Ana. Com a mão livre ele segurava sua espingarda de cano serrado e a moça sua arma de choque. Sam evitava atirar e quando fazia era na perna ou no braço dos zumbis. Já Ana não teve a oportunidade de usar sua arma em ninguém.
Eles finalmente entraram no pavilhão onde ficava a cela do Singer. Encostaram a porta e derrubaram um armário na frente dela improvisando uma barricada. Punhos partiram a janelinha da porta, e braços foram introduzidos pelo vão agitando-se no ar como tentáculos a procura de algo para estrangular.
– Eu vi em um mapa no prédio anterior que a cela fica no próximo corredor à direita – explicou Dean correndo.
Quando dobraram no final do corredor toparam com mais uma cena hedionda. Preso as grades de sua cela estava o cadáver de Robert Singer. Ele trazia no rosto curvado uma expressão de intenso horror. O experiente caçador fora pego e esfolado vivo. A pele do pescoço ao umbigo jazia aos seus pés. A jovem promotora enfiou o rosto no peito de Sam para não ver aquilo. Ela já havia visto sangue suficiente para uma vida toda.
– O que acharam da minha obra-prima? – perguntou alguém no interior da cela oculto nas sombras.
– É o Kripke! – avisou Ana. – Façam parar de matar – pediu aos irmãos Winchester que já miravam no coração do feiticeiro.
– Eu não faria isso se fosse vocês – preveniu Kripke sorridente.
Os Winchester não lhe deram ouvidos, sabiam que a melhor maneira de lidar com feiticeiros era atirando primeiro e perguntando depois. Mas a munição disparada contra Kripke não chegou a tocá-lo. O devorador de almas havia se materializado na frente de seu mestre recebendo a carga de sal grosso no que seria seu peito. A criatura urrou e se desintegrou, voltando a surgir agora atrás dos irmãos que foram lançados contra as paredes do corredor. Os seus corpos estavam presos acima do chão sendo pressionados pelo It que apertava seus peitos com a sutileza de uma britadeira.
– Solte eles ou vai se arrepender! – disse Ana ameaçando Kripke com sua arma de choque.
– Calma doutora, não vou matá-los, não depressa – disse Kripke rindo com sadismo. – Eu quero ver se são durões como o Singer. Ele podia ter facilitado respirando o pó mágico, mas o infeliz usou a camisa umedecida na água da pia como máscara de gás. Ele era dos bons, mas não o bastante – ressaltou Kripke, mesmo assim resistiu por uma hora de tortura antes de me dar o nome dos seus amigos. Só então deixei que meu “bichinho” consumisse o espírito dele. Não sei se te explicaram, mas preciso do nome de meus oponentes para acrescentá-los a minha lista negra. – disse exibindo sua bíblia aberta com o nome “Sam” e “Dean” gravados em letras garrafais preenchendo uma página cada.
– Por que está fazendo isso? – disse Ana a meio metro dele.
– Porque posso, simples assim – respondeu Kripke sério. – Vou te contar um segredo doutora. Eu já fui um caçador como o Singer e seus amigos no “paredão”. Mas nas palavras de Nietzsche: “olhei por tanto tempo dentro do abismo que o abismo olhou para mim” e aqui estou. Fui esperto para escolher o lado que irá vencer a guerra entre o Bem e o Mal – declarou triunfante.
– Ninguém sabe como essa guerra vai terminar, talvez nunca termine – disse Ana sofrendo pelos irmãos que gritavam de dor presos pelo It.
– Olhe ao seu redor e não seja ingênua! A maldade impera em toda parte. O Mal já venceu e o “Bem” está agonizando na parede – retrucou Kripke.
– Não é verdade! O Mal só impera onde a bondade não se impõe. Eu sou testemunha disso, vejo todos os dias pessoas corruptas no tribunal, mas também vejo pessoas lutando por justiça. E não vou ficar parada vendo-o maltratar meus amigos – disse Ana avançando com sua arma faiscando.
Infelizmente Kripke como todo caçador tinha treinamento militar e para ele foi extremamente fácil desarmar Ana e lança-la contra a parede.
– Adoro uma potranca arredia – disse Kripke torcendo o braço dela. – E sabe de uma coisa? Eu não preciso do It para cuidar de você. E pra ser franco, será um prazer “cuidar” pessoalmente de você – disse maliciosamente.
Nas paredes os Winchester viam tudo sem poder intervir. Não que tivessem consciência do que acontecia fora de seus corpos, pois estavam concentrados em suportar a pressão esmagadora infligida pelo It em seus peitos. Eles se sentiam como se estivessem sofrendo uma cirurgia sem anestesia por um açougueiro ensandecido.
– Você não vai escapar impune, maldito! Nós temos o punhal que você usou para matar as crianças – disse Ana sentindo o aperto afrouxar.
– Se refere a este punhal? – perguntou Kripke soltando-a para mostrar sua lâmina. – E não faça cara de surpresa, foi meu advogado que pegou para mim. Como acha que esfolei o Singer? E chega dessa besteira de “não escapará impune”, isso não é filme, é a vida real e na vida real a impunidade é a regra. Levei seis anos para gerar meu It, mas agora serei um deus entre os homens, qualquer um que se opor a mim terá sua alma dilacerada pelo meu monstrinho – disse Kripke erguendo o punhal. –A gora se não se importa irei tirar um pedaço seu para experimentar; estou curioso para saber se o sabor da sua carne é forte como o da sua personalidade. E sim, foi desse jeito que me livrei dos restos das crianças. Não pensava que eu iria desperdiçá-las com os jacarés, não é?
Foi a gota d´agua. Ana superou o medo e o asco que sentia e acertou um chute com seu sapato bico fino entre as pernas de seu agressor. O homem caiu de costas e ficou gemendo e praguejando em posição fetal. O It ao ver seu mestre no chão largou os Winchester e se projetou em cima da moça, mas era tarde para ele. Quando o monstro a atacou ela já havia começado a rasgar a bíblia de Kripke que sangrava em suas mãos.
Os Winchester despencaram no piso com um tombo feio e sem forças para se levantarem viram do chão a criatura ser destruída. O It perdeu consistência e derreteu formando uma gosma negra que evaporou impregnando o corredor com cheiro de carne podre.
Ana chorava sentada no chão ainda picando mecanicamente as folhas com a lista negra. Os Winchester juntaram forças e se arrastaram até ela abraçando-a.
– Bom trabalho – gemeu Dean. – Não teríamos feito melhor.
– Acho que você aleijou o “Bruxo de Nova Orleans” – disse Sam apontando para o Kripke que se retorcia ali perto. – Lembre-me de nunca irritá-la.
– Mas e agora o que farei? Não posso falar dessas coisas no tribunal sem parecer louca – disse Ana se recuperando. – A não ser... é isso! – pensou alto.
– A não ser o quê? – perguntou Sam.
– Independente do que ela está pensando, Sam, eu aposto que dará certo. A doutora não deu um palpite errado hoje – disse Dean.
Depois de algemarem o Kripke e trancá-lo na cela do Singer foram a centro de vigilância para ver o que as câmeras haviam filmado. Eles selecionaram a filmagem do Kripke torturando Singer e a confissão feita enquanto atacava a promotora. As demais fitas foram apagadas para que não fossem parar na TV. Os Winchester acreditavam que havia “verdades” para as quais a população comum não estava preparada para lidar.
– O que houve com os zumbis, rapazes?– indagou Ana.
– Eu tenho uma teoria um tanto louca, mas como zumbis mantêm uma conexão mental com seu mestre, e bem, você deve ter dado curto circuito nessa conexão com aquele chute. Os zumbis devem estar por ai se escondendo de você – disse Dean.
– Aquele desgraçado merecia mais – disse Ana nervosa.
– E com essas fitas você vai garantir que Kripke terá toda a punição que um canalha como ele merece – disse Sam.
Ana sorriu satisfeita como há muito não sorria encantando ainda mais os irmãos que já eram seus fãs.
***
Alguns dias depois no chuveiro da mesma penitenciária.
Kripke havia acabado de desligar o chuveiro quando ouviu passos atrás de si, e ao se virar viu treze homens surgirem através da cortina de vapor. Eles estavam com toalhas enroladas na cintura e eram grandes, feios e hostis.
– Tudo bem, comedor de criancinhas? – perguntou o maior dos homens desferindo um soco na cara do Bruxo de Nova Orleans.
– Não! De novo não! – suplicou do chão ao ver as toalhas caírem.
Epílogo

Sam e Dean aguardavam a promotora para saberem como terminou o processo. Haviam combinado de se encontrarem na placa de boas-vindas na entrada de Nova Orleans. Dali partiriam para sua nova caçada mas antes era preciso confirmar se o caso estava concluído.
Para o espanto dos irmãos a promotora chegou montada em uma moto kawasaki.
– Olá, rapazes! – disse saltando da moto para abraçá-los. – Adivinhem! O júri julgou Kripke culpado de todas as acusações! Ele pegou perpetua! – disse Ana saltitante.
– Parabéns! Você é o cara! Digo, a mulher! – brincou Dean.
– O Kripke começou a perder quando se meteu com você – disse Sam. – Mas gostaria de ter visto a cara do Kripke quando recebeu a sentença.
– Se te serve de consolo ninguém viu. Ele não pode comparecer a sessão final. O Kripke está na enfermaria da prisão, parece que tem feito muitas “amizades” entre os prisioneiros e anda ocupado demais sendo “cuidado” pelos novos amigos, se é que me entendem – disse Ana impiedosa.
– Ele está colhendo o que plantou – disse Sam.
– Mas esqueçamos o Kripke e vamos sair os três para comemorar a primeira grande vitória da minha carreira. Melhor dizendo: nossa grande vitória – corrigiu.
– Valeu pelo crédito princesa, mas o mérito é todo seu. E acredite eu adoraria sair contigo, mas a polícia de Nova Orleans está nos procurando por termos seqüestrado uma promotorzinha. – disse Dean sorrindo e também estamos saindo para uma nova caçada, infelizmente é sério – disse Dean abatido.
– E não há nada que possa fazer para que fiquem? – perguntou decepcionada.
– Lamentamos Ana – disse Sam. – Foi bom tê-la conhecido.
Sam a abraçou para se despedir e Ana aproveitou para lhe dar um longo beijo de despedida que o deixou mudo. Eles se separaram evitando se olhar. Dean recebeu apenas um abraço e ficou contrariado.
– Até um dia desses, rapazes! – gritou Ana partindo em sua mota sem demora para que os rapazes não percebessem como era duro para ela dizer adeus.
– O que houve aqui? – perguntou Dean indignado.
– Sei lá, vai ver que tem mulheres que são boas demais para você – zombou Sam. – Esquece isso, para onde agora? – disse entrando no Impala enquanto saboreava a lembrança do beijo.
– Tem uma múmia dando trabalho no museu de história de Nova
York – disse Sam passando uma edição amassada do Times para o irmão.
– Dean – disse Sam pensativo.
– Sim?
– Essa Ana daria uma bela caçadora de demônios, concorda?
–Ela é uma caçadora de demônios, Sam. Deus a ajude porque na profissão dela terá que enfrentar monstros piores que os nossos.
Sam refletiu a respeito enquanto Dean guiava o Impala para fora de Nova Orlenas por uma estrada deserta. E por um instante eles tiveram a impressão de ver treze crianças de branco acenando sorridentes ao lado de três adultos na beira da estrada. No instante seguinte haviam desaparecido. Os espíritos estavam em um lugar melhor agora, graças aos Winchester e a uma advogada destemida.
FIM

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